20140122

Recordações de Sitges

Foi em Junho de 2010, mais precisamente, no domingo, 6 de Junho de 2010, que o então ministro das Finanças de Portugal, Teixeira dos Santos, foi fotografado à saída do hotel Dulce, em Sitges, cidade balnear a poucos quilómetros de Barcelona, Espanha.
O ministro estava no hotel desde sexta-feira à noite - faltou inclusive a um debate na Assembleia da República para ir para Espanha. Não foi passar nenhum fim-de-semana romântico em escapadinha privada. Não. Estava lá na qualidade de ministro das Finanças, ao serviço do povo de Portugal para participar no encontro anual do Grupo Bilderberg, aqueles que reúnem os "Donos do Mundo" com os políticos preferidos e depois não permitem que os convidados falem das discussões com a Imprensa. E a Imprensa acha isso "normal" e até "folclórico". Na reunião do ano passado estiveram, por exemplo, António José Seguro e Paulo Portas. Este último, antes da demissão "irrevogável", antes de ser feito vice-primeiro-ministro... Recordo agora a viagem de Teixeira dos Santos porque a mesma aconteceu no mesmo mês em que, soube-se recentemente, o comissário europeu dos Assuntos Económicos, o finlandês Olli Rehn, rejeitou a ideia de que a Europa reagiu tarde no apoio a Portugal e defendeu que houve uma "reacção nacional tardia", pois o Governo de Sócrates só agiu quando já estava "encostado à parede". E contou que chegou a discutir esse programa com o nosso ministro em... Junho de 2010. Ou seja, depois da estadia de Teixeira dos Santos em Sitges. De acordo com as notícias dessa altura, vemos que, a 16 de Junho de 2010, dez dias após a reunião do Grupo Bilderberg, Olli Rehn é citado a dizer o seguinte sobre Portugal: "Os objectivos orçamentais actuais, incluindo os objectivos revistos de Espanha e de Portugal, parecem garantir uma posição global orçamental adequada para a UE, mas há uma evidente necessidade de avançar com mais força com a agenda estrutural". Portugal resistia a pedir ajuda económica, facto que só veio a acontecer, finalmente, a 6 de Abril de 2011, quando Teixeira dos Santos reconheceu que Portugal deveria pedir ajuda externa. aliás, vale a pena recordar esse dia nas palavras dos jornalistas que serviram de "pombo-correio" ao ministro: ver aqui o vídeo. Em resposta, Teixeira dos Santos veio agora dizer que Olli Rhen, que, por acaso também é um dos políticos que já esteve numa das reuniões do Grupo Bilderberg (Turquia, 2007), está agora a "defender a sua dama". São todos bons rapazes, mas, no entretanto, houve aqui alguém que fez muito dinheiro. A conta de hotel daquele fim-de-semana em Sitges não deve ter sido nada barata para o bolso dos portugueses. E hoje, o Nuno Carregueiro, no "Jornal de Negócios", escreveu isto: "Quem investiu na dívida portuguesa no final de 2011 e manteve até hoje os títulos em carteira, só pode estar bastante satisfeito com a aposta (de risco) que efectuou. Em 2012, tendo em conta todos os mercados mundiais desenvolvidos, as obrigações soberanas portuguesas foram as que deram maior retorno aos investidores". Deve ser esse o preço do fim-de-semana de Teixeira dos Santos na reunião de Bilderberg de 2010.

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20140113

Sócrates e as críticas ao Goldman Sachs

Para também não virem depois dizer que só me "preocupo" em "atacar" José Sócrates com esta coisa sem importância do jogo Portugal-Coreia do Norte - e é verdade que não tem importância o caso em si, pois o que sempre me interessou foi realçar como um exemplo prático, fácil de apreender, e que serve para demonstrar o que não acontece em outros casos bem mais graves e importantes que nem sequer chegam a ser conhecidos devido à falência do jornalismo -, destaco outras palavras de Sócrates, ontem à noite, na RTP. Ele criticou a Goldman Sachs. Sim, é algo que um homem de esquerda faria naturalmente. Mas, agora, quando ouvirem as suas palavras, tenham em mente algo que a jornalista Cristina Esteves provavelmente não sabia: Em 2004, há 10 anos apenas, José Sócrates, quando era um simples deputado socialista, foi convidado por Balsemão para participar no encontro anual do Clube Bilderberg. Entre outros, estavam lá também o então o comissário europeu Mario Monti, pessoa que José Luís Arnaut vai substituir na Goldman Sachs. E estava ainda o actual presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que era nessa altura vice-presidente da... Goldman Sachs. Pensem nisso e agora ouçam e digam lá se isto não um Portugal-Coreia do Norte outra vez... http://youtu.be/3fHMp_ph9Oc

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Sócrates e a falência do jornalismo

Fui criticado por "atacar" o ex-primeiro-ministro José Sócrates ao apontar um alegado engano da sua parte quando, na semana passada, relatou no espaço semanal da RTP uma memória de infância relacionada com o jogo do Mundial de 1966, Portugal-Coreia do Norte. Disse ele então que saiu de casa quando Portugal perdia por 3-0 e, acaminho da escola, ia ouvindo pelas ruas da Covilhã os golos até que, quando chegou à escola, foi uma explosão de alegria com a vitória de Portugal. Apontei então o facto do jogo ter sido num sábado e que que poderia dar-se o caso de não haver aulas. Muitas críticas vieram reclamar que ao sábado havia aulas - embora o jogo tivesse começado às 15 horas e, mesmo com aulas ao sábado, estas, normalmente, acabavam à hora do almoço - havendo ainda o facto de ser férias de Verão: o jogo foi a 23 de Julho. Enfim, ontem à noite, novamente na RTP, Sócrates garantiu que disse que ia para a escola para jogar futebol com os amigos. E a jornalista Cristina Esteves não o interpelou e não disse que isso era um engano - para não dizer mentira - já que, nas declarações que estão gravadas, o ex-primeiro-ministro nunca explica o que o levou a ter de ir para a escola naquele sábado, a meio do jogo. É verdade que ele também nunca disse que ia para a escola porque tinha de ir para as aulas. Mas, se teve de sair de casa a meio de um jogo onde Portugal estava a perder, então isso deveu-se ao facto de que era obrigado a ter de sair de casa para ir para a escola - pelo que a possibilidade de ter aulas era a mais óbvia - ou então não acreditava na reviravolta de Portugal e foi jogar à bola. E não o quis dizer ou esqueceu-se de dizer que era para jogar à bola. Mas, se há uma semana houve um lapso de memória com quase 50 anos de distância, esta semana houve um segundo lapso de memória com apenas uma semana de distância. No entanto, a culpa nem é de Sócrates: é dos jornalistas que o deixam enganar-se ao vivo e, depois, somos nós todos, asociedade, que acaba vítima dos enganos pelos políticos que os jornalistas deixam passar.

O vídeo do engano de ontem que a jornalista deixou passar... http://youtu.be/g7JYZe5xMiA

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20140109

Foi à escola, sem sacola

Afinal, não havia aulas ao sábado. Mas Sócrates foi à escola, sem a sacola, pois foi jogar à bola. Quem o diz, é Jorge Patrão, pessoa que, mais tarde, levou Sócrates para o PS. Tudo na mesma escola, portanto. Sim. E eu sou um jornalista muito mau...


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20140107

Eusébio e Sócrates

Que Eusébio não fosse um pensador, como disse esse pensador Mário Soares, é uma opinião. Agora, em relação aos factos, temos um problema quando ouvimos Sócrates, outro pensador. Ele diz que se lembra de caminhar para a escola a ouvir os golos de Eusébio. E diz que isto foi num  momento muito específico: durante o célebre jogo do Mundial de 1966 contra a Coreia do Norte. Ora, várias questões se levantam quando um político fala e pensa. Daí que o trabalho dos jornalistas seja o de verificar a veracidade dos factos. Não é dizer que ele mente ou que se engana nos factos. Mas, trata-se de pensar naquilo que ele diz. Assim, Sócrates diz, por outras palavras, que, no sábado, dia 23 de Julho de 1966, pelas 15 horas - data e hora do jogo entre Portugal e a Coreia do Norte -, ele foi à escola. E era Verão, quando muita gente já estaria de férias. Ele tinha então 8 anos, portanto, é possível que a memória não seja bem esta. Mas, agora, pensem noutras coisas que um político diz e garante serem verdade. Por isso, olhem e observem - não basta olhar apenas - para os movimentos do corpo e as palavras... http://youtu.be/rbPamN_o1F0

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