20130326

Camarate - Audição de Frederico Duarte Carvalho


20130323

Com Inspiração - Rui Rio e António Costa, os candidatos de Bilderberg

20130322

Dez anos depois

Passei ontem na FNAC do Chiado e estive a assistir ao lançamento do livro de Bernardo Pires de Lima sobre a cimeira das Lajes de há 10 anos, antes da invasão do Iraque. Durante os discursos, o especialista em questões internacionais, Miguel Monjardino, disse que a questão do Iraque passou por cinco administrações norte-americanas: Ronald Reagan, George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama. No fim, abordei este especialista e perguntei por que motivo continuam os "especialistas" a ignorar que a guerra entre o Iraque e o Irão começou em Setembro de 1980, ainda durante a administração de Jimmy Carter? Ele ficou visivelmente embaraçado. Perguntei-lhe depois por que motivo se continua a tentar esconder que o tráfico de armas para o Médio Oriente em Portugal começou ainda antes da chegada de Reagan ao poder e que o caso Irangate não começou em 1982, mas sim alguns meses antes de Camarate? Ele sorriu e disse que isso daria um bom debate. Enfim, são coisas que aprendi há 10 anos, quando desci a Avenida da Liberdade - a da "suposta" Liberdade para ser mais exacto - para marcar a minha posição contra a invasão do Iraque, e vi o ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República, Mário Soares, a lanchar no Rossio depois dos discursos. Daí nasceu a ideia para o livro "Eu Sei Que Você Sabe", publicado em Novembro de 2003. Entretanto, Pires de Lima disse que está a pensar escrever um livro sobre Durão Barroso. E, de forma algo misteriosa, deixou a indicação de que a preparação da ida de Durão Barroso para a Comissão Europeia, e que aconteceu no rescaldo do Euro2004, afinal terá sido planeada na altura em que Guterres se demitiu em Dezembro de 2001. Achei piada a isso, pois já abordei essa questão num outro livro que escrevi há três anos. Chama-se "Estado de Segredos" e nessa obra lembrei uma notícia do "Público", de 18 de Dezembro de 2001, com o título "Guterres poderá ter falhado por 24 horas uma carreira europeia oferecida de bandeja". Essa carreira era, naquela altura, ser presidente da convenção para a reflexão do futuro da Europa. Só que Guterres era primeiro-ministro e, para aceitar o cargo, teria de se demitir a meio do mandato. A questão fora analisada na reunião de líderes europeus na sexta-feira, dia 14 de Dezembro de 2001. Guterres não aceitou demitir-se para seguir para a Europa. Mas, dois dias depois, na noite de 16 de Dezembro, demitiu-se quando o seu PS perdeu as câmaras municipais de Lisboa e Porto na eleições autárquicas. E, ao contrário do protocolo, anunciou a demissão antes das declarações de Paulo Portas, o líder do CDS/PP que estava a ser pressionado também para se demitir depois de não ter conseguido fazer a diferença na eleição em Lisboa (era ele o cabeça-de-lista). Se Guterres tivesse falado no fim da noite, após todos os outros, como qualquer grande líder, Portas teria de falar sem conhecimento da decisão de Guterres. Mas, depois do anúncio da demissão do primeiro-ministro do PS, quando Portas apareceu perante as câmaras nessa noite, já não o fez como o candidato derrotado contra Santana Lopes, mas sim como o líder de um partido que, de acordo com as sondagens da altura, poderia ser governo em coligação com o PSD de Durão Barroso caso houvesse eleições antecipadas. E foi isso o que Guterres "ofereceu" ao País naquela noite de 2001. Deu-nos o pântano, deu-nos um Durão Barroso que, dois anos depois, em plena euforia do Euro2004, não hesitou em demitir-se a meio do mandato e a ir "jogar" para a Europa. E foi assim, com Santana pelo meio, com a demissão de Ferro "Casa Pia" Rodrigues, apareceu José Sócrates. E foi assim que viemos parar a este "pântano". Sim Bernardo, escreve lá o livro que bem nos faz falta...

Etiquetas: , ,

20130321

Comissão cumprida

Foram três horas. Entre as 19 e as 22 horas de ontem estive a responder a todas as perguntas dos deputados na Xª Comissão Parlamentar de Inquérito de Camarate. No fim ficou a sensação do dever cumprido, como jornalista e cidadão. Foi o culminar de mais de 10 anos de trabalho com muitos riscos profissionais, foram mais de 30 anos de vontade em querer saber a verdade. Como disse ontem aos deputados, era por ali que tudo deveria ter começado quando, a 4 de Dezembro de 1980, caiu o avião com o primeiro-ministro e ministro da Defesa a bordo. Qual o "nexo de causalidade" entre a morte de Sá Carneiro e o tráfico de armas para o Irão, foi a primeira pergunta, feita pela deputada Isabel Oneto, do PS. Estava dado o mote de partida. A reportagem da agência Lusa destacou para título essa primeira pergunta entre as muitas que depois se seguiram durante as três horas. E ainda bem, pois foi uma atitude inteligente de quem fez a pergunta e da jornalista que a registou (creio que era uma jornalista, pois só havia uma pessoa presente no local habitualmente ocupado pela Comunicação Social e era mulher). Respondi que também eu queria saber isso. Destaquei então a capa do meu livro, que pelo grafismo, reproduz jornais da época e disse que, na realidade, Camarate só ontem é que começava a ser investigado. Os jornalistas da época podiam ter começado a investigar o caso dos reféns de Teerão e a possibilidade de haver ou não um "nexo de causalidade" com a morte do primeiro-ministro. E davam assim seguimento ao artigo do jornal "Portugal Hoje", de 11 de Novembro de 1980, semanas antes da queda do avião Cessna, onde era mencionado esse tráfico. Um jornal onde estagiou a deputada socialista que ainda não conhece o "nexo de causalidade". Outro dado muito inteligente registado pela reportagem da Lusa foi a lista dos nomes das pessoas que sugeri que deviam ser ouvidas precisamente para procurar esclarecer o tal "nexo de causalidade". Escreveram que sugeri Frank Carlucci, que fora o embaixador dos EUA em Lisboa e era o número dois da CIA na altura da morte do primeiro-ministro português, o ex-Presidente da República e amigo pessoal de Carlucci, Mário Soares, e o ministro dos negócios Estrangeiros de 1977, Medeiros Ferreira. Eram os nomes que, devido aos cargos que então ocupavam, estavam envolvidos num caso de tráfico de armas em Portugal em Julho de 1977. No entanto, a minha lista era mais completa. Também sugeri Alpoim Calvão, responsável pela empresa Explosivos da Trafaria, José Garnel, da empresa Defex, Henry Kissinger, Vasco Abecassis (ex-marido de Snu e que teria telefonado para Donald Rumsfeld para saber se Sá Carneiro era "perseguido" pela CIA), Cavaco Silva, Rui Carp, Jim Hunt (sobrinho de Frank Sturgis, o suposto autor do atentado, pessoa que terá apertado o botão do controlo remoto que fez explodir a bomba a bordo do avião), para além de José Esteves e Farinha Simões. Sugeri ainda que a Assembleia da República pedisse à CIA que esclarecesse os factos descritos no meu livro sobre o tráfico de armas por Portugal durante a crise dos reféns do Irão e as suspeitas de Sá Carneiro. Mas, de igual modo, alertei os deputados para o perigo que este caso, ainda hoje, representa para a estabilidade do regime dos EUA e do Irão. Frisei que Camarate era uma questão que envolvia a nossa soberania. Foi por termos perdido essa soberania ao longo dos anos em que não se investigou o tráfico de armas por Portugal que permitimos o actual domínio da Troika. Mencionei o facto de que, desde 1975, a nossa Democracia, construída na base de atentados à bomba e de contra-informação, ainda hoje não permite a plenitude do jogo democrático com uma aliança PS-PCP. Mas que, ainda assim, investigar Camarate, era um sinal para o resto do mundo de que tínhamos a coragem de arrumar a nossa casa e dizer depois aos outros países que fizessem o mesmo.
Eu cumpri.
Agora, outros que cumpram também o seu dever.

Etiquetas: , ,

20130318

Com Inspiração - Camarate

20130312

Com Inspiração - O novo Papa

O próximo Papa poderá ser o italiano Angelo Scola. Essa seria a escolha mais acertada para que não se cumprisse a profecia de S. Malaquias. O próximo Papa

Etiquetas: , , , ,

20130311

Mais um passo...



Etiquetas:

20130308

Então, foi assim...

Estive hoje na Assembleia da República a assistir ao lançamento do livro sobre Camarate, "O Grande Embuste", do jornalista José Manuel Barata-Feyo. Comprei a obra à entrada e tive tempo para ler algumas passagens antes do início da apresentação. Foi o suficiente para comprovar que um livro sobre Camarate que, na capa, tem uma citação do jornalista Miguel Sousa Tavares a garantir que se trata da "primeira investigação séria, isenta e completa, até hoje feita, de um caso que assola Portugal há mais de trinta anos", não abordou o tráfico de armas para o Irão que Sá Carneiro andava a investigar. Durante a apresentação, Barata-Feyo explicou que o "embuste" é o facto da Assembleia da República estar hoje a investigar algo que os dados científicos não conseguiram provar, ou seja, o atentado. Logo, se não houve crime, não pode haver um móbil do crime, o que, como argumento, pareceu-me bastante lógico. Mas, como argumento jornalístico parece muito fraco, pois é sabido pelos jornais da época - eu tinha então 8 anos, mas Barata-Feyo já era jornalista e deve saber isso melhor do que eu - o tráfico de armas para o Irão estava na ordem do dia, tal como a investigação ao Fundo de Defesa Militar de Ultramar. E isso "morreu" em Camarate. Assim, no fim da cerimónia, e como não houve direito a perguntas, esperei na fila dos autógrafos para pedir uma assinatura ao autor. Apresentei-me e contei-lhe que, se ele ainda não o sabia, eu também tinha escrito um livro sobre o caso. O jornalista admitiu que tinha "ouvido falar" de um livro sobre o tráfico de armas. E depois queixou-se que era difícil conseguir uma cópia do mesmo na "província", ou seja, em Castelo Branco. Então informei-o que teria todo o prazer em pedir à minha editora que mandasse um exemplar para a sua editora, em Lisboa, que depois poderia expedir-lhe, via correio, para a sua morada pessoal. Ainda acrescentei uns detalhes sobre o meu trabalho e agradeci-lhe por ter escrito o livro, pois iria ser muito importante para continuar com a minha investigação. E apertámos a mãos.
Pronto, foi assim.
Sobre o livro de Barata-Feyo, não tenho muito a dizer. Para mim, é inútil perder tempo a discutir se houve ou não atentado. Havia muitas razões para matar Sá Carneiro. E, qualquer investigação jornalística séria iria descobrir coisas que, ainda hoje, nem o jornalista que fez "a primeira investigação séria, isenta e completa", menciona.

Etiquetas: , ,

20130307

Camarate, um ano depois, visto por Francisco Sousa Tavares

20130305

"O Grande Embuste"

O jornalista José Manuel Barata-Feyo vai apresentar na próxima quinta-feira, dia 7, pelas 18h30, no auditório da Assembleia da República, o livro sobre Camarate intitulado “O Grande Embuste”. Hoje vem um artigo sobre a obra no “Diário de Notícias” e que permite antecipar o seu conteúdo. Afirma Barata-Feyo, que é apresentado como “jornalista autor da primeira investigação à morte em 1980 de Sá Carneiro”, que “é impossível concluir que houve atentado na queda do Cessna” que, a 4 de Dezembro de 1980, causou a morte, entre outros, ao primeiro-ministro Sá Carneiro e ministro da Defesa, Amaro da Costa. Sem querer discutir quem foi “o primeiro jornalista”, apenas registo que, por exemplo, Augusto Cid, então a trabalhar no semanário “O Diabo”, foi dos primeiros a chamar a atenção para algumas das discrepâncias entre a versão oficial e os factos. Pouco depois de Camarate, Augusto Cid percebeu que a versão oficial defendia que os cadáveres estavam com os ossos partidos, o que significava que as vítimas se encontravam vivas no momento do impacto, enquanto a autópsia indicava o contrário: os ossos estavam inteiros, logo as vítimas deveriam estar inconscientes no momento do impacto. A suspeita de que teria havido um atentado adensava-se, tanto mais que o próprio semanário tinha mencionado a possibilidade de uma explosão a bordo num artigo publicado no dia 10 de Dezembro de 1980, ou seja, apenas uma semana depois da queda do Cessna. Augusto Cid falou depois do rastro de detritos do avião encontrado no fim da pista, ainda dentro do aeroporto, indiciando que o aparelho estaria a arder no ar antes de cair no bairro de Camarate. Durante anos discutiu-se o chamado “efeito chaminé”, ou seja, o rastro teria sido provocado pelo incêndio do avião no local da queda, facto que fez elevar os detritos tendo sido depois espalhados na pista do aeroporto por acção do vento. No entretanto, as várias testemunhas que viram o avião explodir no ar, como foi o caso do chefe de segurança de Sá Carneiro, seriam sempre desprezadas pela investigação policial com a apresentação de uma explicação alternativa e a favor da tese do acidente. É verdade que Barata-Feyo andou muito empenhado em investigar Camarate, juntamente com Artur Albarran, para um programa da RTP da saudosa rubrica “Grande Reportagem”, exibido no início de 1983. Eu não sei o que se passou em Camarate, pois na altura tinha apenas 8 anos. Mas, cresci a admirar jornalistas como Barata-Feyo e também Miguel Sousa Tavares, outro dos jornalistas de “Grande Reportagem”. Lembro-me da revista com o mesmo nome, que comprei pela primeira vez em 1990, ainda antes de entrar na Escola Superior de Jornalismo. Era dirigida por Barata-Feyo e, logo depois, por Miguel Sousa Tavares. Estes eram dois nomes do jornalismo português que eu respeitava e cujo exemplo de investigação e capacidade de fazer perguntas incómodas ao poder nortearem a minha vontade em querer ser jornalista. E, frise-se, era essa também a referência de muitos outros jovens como eu. E Camarate sempre foi um grande mistério que, de vez em quando, era comentado por estes dois grandes nomes do jornalismo nacional. Por isso, para seguir as pisadas de Barata-Feyo e Miguel Sousa Tavares, também investiguei Camarate. Afinal, eu até tinha uma história pessoal sobre aquele dia: conhecia o piloto de um segundo avião que deveria ter levado Sá Carneiro de Lisboa ao Porto e que, no fim do comício no Coliseu, deveria ter transportado o primeiro-ministro de volta a Lisboa. Era o pai de um amigo meu. Esse era o avião da RAR. Tal como Barata-Feyo não consegui provar que era acidente. Aliás, um acidente não se prova, confirma-se apenas. Aqui, o que havia a provar era o atentado. E, nesse caso, há indícios fortes de atentado. Demasiados. Podem não ter hoje valor do ponto de vista jurídico, mas têm do ponto de vista jornalístico. Ainda não li o livro “O Grande Embuste” e não sei qual o conteúdo exacto, mas espero que Barata-Feyo, apesar de desafiar a verdade política – e ainda bem que o faz, pois é sempre de salutar o contraditório -, reconheça que, independentemente de Camarate ter sido acidente ou atentado, havia investigações polémicas que Sá Carneiro tinha em mãos e que também “morreram” com ele em Camarate. Só hoje, mais de 30 anos volvidos, e graças aos trabalhos da mesma Assembleia da República onde Barata-Feyo vai apresentar o seu “embuste”, estamos finalmente a descobrir a verdadeira dimensão do Fundo de Defesa Militar de Ultramar e as implicações suficientemente sérias para provocar um atentado contra o primeiro-ministro como era o tráfico das armas para o Irão. E isso não era nenhum segredo, pois até estava na primeira página dos jornais publicados um mês antes de Camarate. Mas, Barata-Feyo e Miguel Sousa Tavares, enquanto discutiam se era atentado ou acidente, nunca foram mais à frente e nunca seguiram a pista do tráfico de armas. Tive se ser eu, mais tarde, a fazer essa investigação e a contar o que descobri. E hoje, apesar das críticas, pelo menos posso andar de cabeça erguida na sociedade em que estou inserido e com o prazer acrescido do dever cumprido e, sobretudo, com a certeza de que não sou um embusteiro.

Etiquetas: , , ,