20090227

Mais coisas que não vos dizem sobre o cão de Obama...

Mesmo que a família Obama tenha a incrível "sorte" de encontrar um exemplar puro da raça cão de água português num abrigo para animais abandonados - ou seja, fora da lista da Portuguese Water Dog Club of America... -, isso não será uma boa notícia para toda a gente que gosta dos cães de raça portuguesa: "It's nothing against the Obamas. But some Portuguese water dog owners aren't thrilled the breed is a front-runner for the first family. The choice could mean a spike in the dogs' popularity - and that could mean a rise in shady breeders and fickle owners who don't understand the dogs and eventually abandon them, owners of Portuguese water dogs say".
Sem esquecer que ainda há que contar com o "lobby" dos "Labradoodles por Obama"...


Etiquetas: , ,

20090226

Voltou a febre do cão português de Obama

Mérito e sociedade ou mais do mesmo...

20090225

A televisão que queriam trazer até si...

A revista "Telecabo" do mês de Março revela alguns documentos ditos "secretos" do projecto que a ZON tinha para o 5º Canal Público...



O projecto era aterrador. Não previa estúdios para informação nem recursos para reportagens de exterior - ou seja, iria ser feita uma televisão praticamente sem meios humanos e, essencialmente, sem jornalistas. Contudo, o mais aterrador é quando se percebe o sentimento de impunidade moral que há hoje entre aqueles que acham que podem ser donos de um canal público. Basta reparar que, num item chamado de "Sinergias de cross promotion" (e como gostam destas palavras em inglês em vez de dizerem "Sinergias de promoções cruzadas"), previa-se, por exemplo, exibir em canal aberto o primeiro episódio de uma nova série, mas que iria obrigar os telespectadores que quisessem assistir aos restantes episódios a serem depois clientes ZON nos canais pagos...



Pior ainda era o facto de, apesar do mercado ser aberto aos melhores e a favor dos telespectadores, o projecto da ZON assumia a "não-competição directa com SIC e TVI", algo que, na perspectiva dos responsáveis do projecto, iria criar uma "goodwill com benefício para o negócio core da ZON" (e lá está outra vez o inglês técnico, apenas para dizer que, da parte das estações privadas concorrentes, iria haver "simpatia com benefício para o negócio central da ZON").



Quanto à grelha de programação previa-se, para além de "enlatados" que iriam ser repetidos ao longo do dia, que a informação televisiva em horário nobre, à hora do almoço, pelas 13 horas, começasse com cinco minutos de... humor - provavelmente uma filmagem das tiradas humorísticas de Maria Rueff ou Bruno Nogueira, gravadas directamente nos estúdios da rádio TSF e já emitidas na manhã desse dia... E, nos 15 minutos seguintes iria haver... "Notícias Desportivas" - algo que, aqui sim, já havia o risco de colidir com o noticiário das concorrentes...

Etiquetas: , ,

Dou um doce...

... a quem for o primeiro leitor a dizer-me o nome do autor destas sábias e justas palavras proferidas há 50 anos durante um discurso num país de língua oficial espanhola:

"Cuando un gobernante actúa honradamente, cuando un gobernante está inspirado en buenas intenciones, no tiene por qué temer a ninguna libertad (APLAUSOS). Si un gobierno no roba, si un gobierno no asesina, si un gobierno no traiciona a su pueblo, no tiene por qué temer a la libertad de prensa, por ejemplo (APLAUSOS), porque nadie podrá llamarlo ladrón, porque nadie podrá llamarlo asesino, porque nadie podrá llamarlo traidor. Cuando se roba, cuando se mata, cuando se asesina, entonces el gobernante tiene mucho interés en que no se le diga la verdad. Cuando un gobierno es bueno, no tiene por qué temer a la libertad de reunión, porque los pueblos no se reúnen para combatirlo, sino para apoyarlo. Quienes, como nosotros, tienen hoy el privilegio de ver a la masa del pueblo reunirse para brindarnos su respaldo, pueden comprender perfectamente, que solo cuando los gobernantes se han granjeado la enemistad de su pueblo, pueden concebir la estupidez, la injusticia, de negarles a los ciudadanos el derecho a reunirse (APLAUSOS)".

Acrescento a 260209: Como já houve quem tenha acertado no nome, aqui fica a versão completa e identificada: "DISCURSO PRONUNCIADO POR EL COMANDANTE FIDEL CASTRO RUZ, EN LA PLAZA DE LA CIUDAD DE CAMAGÜEY, EL 4 DE ENERO DE 1959".

Etiquetas: , ,

Prontos, agora podem voltar à versão original... ou não?

20090224

Corrupção com recibo ou sem recibo?

- Pago-lhe 200 mil euros...
- E se eu passar recibo?
- Nesse caso dou-lhe 195 mil euros...
- E se for sem recibo?
- 'Tá bem, já percebi!... Pago-lhe então 205 mil euros...

Diálogo inspirado por um caso da vida real...

Etiquetas: , ,

20090223

Quem são os eurodeputados que não combatem a corrupção na Europa?

O "Sunday Times" desta semana não esteve com meias-palavras e acusou alguns eurodeputados: "Unfortunately for us, the EU has also become an irresistible magnet for the more-than-ambitious, the dogmatic, the self-righteous, the rapacious, the lazy, the profligate, the self-serving, the incompetent and the morally corrupt".
Estas acusações fizeram-me lembrar a recente iniciativa de dois dos nossos eurodeputados - por quem até nutro alguma simpatia política -, Ana Gomes (PS)...



e Ribeiro e Castro (CDS/PP)...



que, juntamente com mais quatro eurodeputados de outros países, apareceram há dias nas notícias como promotores de uma petição contra a corrupção - "Stop Corruption". Só que, olhando para as ideias propostas, constata-se que a corrupção que estes seis eurodeputados pretendem combater é a que é praticada com os dinheiros da UE por líderes de países em vias de desenvolvimento. E como exemplo falam de África, mas nada sobre a corrupção na Europa por europeus. São suspeitas sobre líderes de países soberanos de fora das nossas fronteiras ao melhor estilo colonialista. Mais valia olhar para os problemas cá dentro antes de ir dar lições de moral lá para fora, sobretudo quando no nosso país as "leis favorecem corrupção".

Etiquetas: , , , , , ,

Dois casos, apenas uma investigação

Se no caso do BPN há uma comissão de investigação na Assembleia da República ao mesmo tempo que o caso está a ser investigado na justiça, então por que não se investiga o que fez o actual primeiro-ministro durante os últimos dias em que esteve à frente do ministério do Ambiente? Aliás, deveria ser o próprio primeiro-ministro a exigir que tal comissão viesse a ser criada. A mesma serviria para o ilibar de uma vez por todas, das suspeitas de má prática política e acabar com a tal "campanha negra" da qual diz ser vítima. O caso Freeport, à semelhança do caso BPN, também já tem arguidos e agora há evidências de que houve tráfico de influências num processo de licenciamento na véspera de eleições gerais antecipadas. Mas, nada acontece para os lados do Palácio de S. Bento. Não quero acreditar que ninguém investiga porque arriscar-se-ia a descobrir que o caso é semelhante a muitos outros casos com outros governos de outras cores partidárias... Contudo, a total ausência de uma reacção "em conformidade" por parte dos políticos na Assembleia da República leva-me a questionar sobre a qualidade dos nossos actuais defensores da Democracia. E a perguntar-me se ainda há Liberdade ou devemos declarar oficialmente a Ditadura...

Etiquetas: , , ,

20090222

Jornalismo: Que Liberdade?

Nunca me pronunciei antes sobre as duas candidaturas ao 5º canal de televisão visto que o processo de selecção ainda estava a decorrer na ERC. Recusava-me a escrever algo que fosse "azarar" a escolha daquilo que, para mim, era, obviamente e de longe, a única e melhor opção: a Telecinco. Contudo, quando vi a qualidade das críticas que o projecto provocou, fiquei com imensa curiosidade para saber como é que a ERC iria "descalçar a bota", pois previa-se desde início que só haveria uma candidatura e que essa seria a da Zon.
Viu-se agora: "ERC rejeita as duas únicas candidaturas ao quinto canal de televisão".
Quem pode explicar com mais detalhe o que está em causa nesta rejeição é o Carlos Narciso...



O Carlos é um jornalista que, a bem da nossa informação televisiva, tem de voltar a aparecer no pequeno ecrã. E com mais este entrave, com certeza que terá outro exemplo para apresentar na sua comunicação no "I Congresso Marquês de Sá da Bandeira", organizado pelo Instituto Democracia Portuguesa e que vai ter lugar no próximo dia 3 de Março, às 11h30, na Universidade Lusíada, em Lisboa, debaixo do tema "Jornalismo: Que Liberdade?". Uma pergunta à qual lanço já a minha resposta: Muito pouca e, pelo que se vê, cada vez menos...

Etiquetas: , , ,

20090220

Pois é, os aviões da CIA fizeram um desvio para nos respeitar porque somos uma potência do caraças

Porto, primeiro o anúncio para a segunda escolha de Elisa Ferreira

Elisa Ferreira foi ontem apresentada com toda a pompa e circunstância como a candidata do partido do poder à Câmara Muncipal do Porto. Nas palavras da própria foi dito que "recriaram-se as condições políticas para que o PS tivesse o gesto de convidar uma independente para constituir uma lista vencedora para liderar os destinos do Porto. Uma lista aberta, constituída por cidadãos sérios, competentes, disponíveis para trabalhar com toda a sua experiência".
Se Elisa Ferreira está assim tão empenhada em liderar essa lista "vencedora", então agora espero que não se venha a confirmar a intenção de a mesma candidata autárquica vir a ser candidata num lugar de destaque às eleições europeias que vão ter lugar em Junho, ou seja, antes da eleição para a qual já se apresentou como cabeça-de-lista ao lado do primeiro-ministro.
O Porto, depois deste anúncio e deste empenho todo, não pode ser uma segunda escolha.

Etiquetas: , ,

20090217

O cão bilionário

Foi em Novembro passado que chamei a atenção para um filme que poucos tinham ainda ouvido falar: "Slumdog Millionaire".
A película, entretanto, já chegou às nossas salas e o livro, publicado pela ASA em 2006, foi agora reeditado com uma nova capa que, obviamente, é alusiva ao filme...



Como já vi o filme e li o livro, posso dizer que são ambos completamente diferentes. Ou seja, se vir o filme primeiro não o reverá depois no livro. E se ler primeiro o livro, não o reconhecerá no filme.
Sem querer estragar a surpresa da intriga, diga-se que o autor do livro, o diplomata indiano Vikas Swarup, pensou numa história que tanto se podia passar na Índia como noutro qualquer país onde fosse emitido o programa de televisão "Quem Quer Ser Milionário".
O segredo - e factor que me atraiu imediatamente ainda antes sequer de ver o filme ou ler a obra - está no conceito da esquematização da intriga, onde cada capítulo do livro corresponde a uma das perguntas do programa e o concorrente, pessoa de fraca cultura geral, só conseguirá progredir até ao prémio máximo se recordar episódios trágico/cómicos que contam a sua vida miserável. Este conceito abre hipóteses para várias histórias de vida, apenas dependendo das perguntas que quisermos fazer. Por isso, algumas perguntas são diferentes do livro para o filme. E não existe uma personagem feminina Latika no livro, mas há uma outra situação amorosa. E o final é diferente. Muito diferente... Daí que seja imperativo ler o livro e ver o filme, pois ambos merecem ser conhecidos. E muito.
O original do livro é indiano, logo a vivência do personagem é mais trágica e pobre do que, por exemplo, se fosse um pobre adolescente que vivesse num dos ditos países mais industrializados do mundo no seio do G7. Mas, se o conceito pudesse ser seguido noutras paragens geográficas, poderíamos, por exemplo, criar uma cena onde um jovem desempregado alemão responderia a uma pergunta sobre física quântica porque, durante os meses em que vivera com vagabundos, aprendera alguns conceitos básicos com um engenheiro russo que procurava emprego na Alemanha... Não seria muito diferente se quisessemos transportar o cenário para a Europa, América ou África. Bastaria apenas seguir o conceito, inventando mil e uma histórias de vidas que se cruzam, onde nos momentos mais graves sabemos que podemos aprender algo que nos vai ser útil no futuro. É um conceito universal...
É por isso que eu acho que o filme vai mesmo ganhar alguns dos prémios máximos no próximo dia 22. E que o livro deve ser lido.
Uma última explicação sobre a origem do título do filme em português. Quando Vikas Swarup escreveu o livro, que no original em inglês é "Q&A" - abreviatura para a expressão "Question and Answer" - chamou "Quem Quer Ser Bilionário" ao programa de televisão. Foi uma opção devido ao facto de não ter os direitos de autor do programa original, que usa a designação "milionário". A tradução em português pegou depois no nome desse programa para título. Mais tarde, quando se negociou a adaptação para filme com realização de Danny Boyle, foi o próprio produtor do programa original que decidiu entrar na aventura e é por isso que no filme o programa já tem o nome "Quem Quer Ser Milionário" e não "Bilionário". O título do filme foi "Slumdog Millionaire" - "Milionário das Barracas", isto numa tradução mais livre da minha parte - contudo, como é prática corrente em Portugal sempre que há um filme que origina de um livro anteriormente editado no nosso país, optou-se pelo título da obra literária.

Etiquetas: , , ,

20090216

Na posição do outro...

O Daniel Oliveira acabou de dizer no "Prós&Contras" que temos de nos meter "na posição do outro" para perceber a necessidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo...

Etiquetas: ,

Comandante Zero

...



"Um crime contra um crime... Quem é o maior ladrão? O dono do banco ou aquele que assaltou o banco?"...

Etiquetas: ,

Devolver ao remetente

Depois da chamada de atenção do Zé Paulo Fafe, fui consultar a fonte e, de facto, é uma carta muito interessante, cuja ausência de resposta ou debate em torno da mesma só vem adensar a nossa falta de liberdade democrática...



Etiquetas: , ,

Os regimes que ainda podemos escolher

Não me incomoda que Hugo Chávez venha a ser eleito as vezes que quiser. Fico é preocupado quando o processo que aprovou a alteração da medida constitucional não tenha sido transparente e esteja debaixo de suspeitas de irregularidades pouco democráticas.
O Presidente Chávez, mesmo submetendo-se a eleições, pode muito bem ser considerado como o primeiro Rei da Venezuela, Chávez I. Só não conseguirá fazer-se suceder por familiares se não quiser. Basta criar uma ditadura de medo para manter a sua Monarquia Absolutista...



Constata-se que Chávez conseguiu fazer-se perpetuar no poder mais tempo do que o homem que ele dizia ser a encarnação do próprio diabo, George W. Bush, que, por acaso, é filho de um ex-presidente dos EUA e irmão de um potencial candidato a presidente dos EUA. É também um caso onde pode haver sucessão dinástica, mas com intervalos para manter a aparência de “Democracia”...



Em Espanha (para dar um exemplo bem pertinho de nós, a cerca de 200 quilómetros, mas que também podia ser noutros países da UE, como Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica ou Luxemburgo), há uma família sabemos que deverá durar para sempre...



Mas, o governo legítimo, quer se goste ou não da sua cor, é sempre eleito pelo povo. E o primeiro-ministro terá de governar e não fazer ditadura. Ou seja, a Monarquia Constitucional é cada vez mais o garante moderno da existência de Democracia contra a Ditadura.



Bem que se pode dizer que, em Portugal, o regime funciona, mas lembrem-se de que apesar da sensação de que o filho de um gasolineiro pode chegar a Presidente da República...



... tal ideia, por muito bela que nos possa soar, não deixa de ser um engano que se quer fazer perpetuar na mente do povo português: Cavaco Silva jamais teria sido eleito para Belém se antes não tivesse passado pela fidelidade partidária. Esse é o factor que condiciona hoje todas as decisões do nosso Chefe de Estado e alimenta esta cada vez mais visível sensação de estarmos a viver numa ditadura transvestida de Democracia que, para subsistir, tem de estar alicerçada no medo e unanimismo...

Etiquetas: , , , , ,

20090213

Mais uma acha para a fogueira

20090212

Aterrador... imagem escrita para o futuro

"'Desescrever'" é o futuro dos escritores":

Póvoa de Varzim, 12 Fev (Lusa) - O romancista espanhol Juan José Millás considera que "desescrever" é o futuro dos escritores, que serão mais prestigiados e bem pagos por destruírem as suas obras do que foram por escrevê-las.

"Um dos maiores desafios da escrita seria resistir a esta longa etapa de desescrita na qual parece termos entrado", sustentou Millás quarta-feira à noite, numa sessão sobre "Os Desafios da Escrita" realizada no âmbito da 10ª edição do encontro literário de expressão ibérica Correntes d`Escritas, que decorre até sábado na Póvoa de Varzim.

O escritor defendeu que os subsídios para a destruição da cultura serão a etapa que se vai seguir às subvenções pagas pela União Europeia para a não-produção agrícola e pecuária nos países membros, dando como exemplo uma aldeia que conhece.

"Eu tenho uma casa numa região de Espanha que se chama Astúrias, que fica no norte, numa aldeia em que as pessoas viviam das vacas e do leite que produziam as vacas, bem como da agricultura. Quando chegou a globalização e a União Europeia, limitou-se a produção de leite aos criadores de gado, criaram-se quotas", relatou.

"`- Você quanto produzia? - Produzia tanto. - Pois, em função do que você produzia antes, agora poderá produzir tantos litros por ano` - E esta óptica foi-se estendendo a toda a cultura agrícola e pecuária espanhola, de forma que, em muitos sítios, se deixou de cultivar, se deixou de criar gado", observou.

E ainda por cima - prosseguiu - "esta falta de actividade era subvencionada, ou seja, pagava-se às pessoas para deixarem de produzir leite, para que deixassem de produzir trigo, ovos, etc. Esta foi uma primeira etapa".

Numa segunda etapa, "pagava-se, sobretudo, para destruir: quer dizer, uma pessoa ia ao ministério da Agricultura e dizia `matei cinco vacas` e pagavam-lhe por ter morto as cinco vacas, ia-se lá e dizia-se `eu arrasei três hectares de vides` e pagavam-lhe tanto pelo hectare".

"De maneira que culturas milenares, sítios onde o cultivo e as ganadarias eram uma forma de cultura havia séculos, desapareceram e aqueles campos foram substituídos por lugares onde as pessoas fazem motocross, porque os camponeses, com o dinheiro que lhes davam por matar vacas ou arrancar vides, compravam motos todo-o-terreno", explicou, provocando o riso na audiência.

Juan José Millás sonhou algumas vezes que os ministros da Cultura da União Europeia se reuniam e decidiam que "o romance, a narrativa, era uma indústria contaminadora e que havia que afastá-la dos núcleos urbanos do Ocidente".

"De maneira que chegou uma altura em que os diálogos se construíam no Vietname, as descrições na Coreia, os monólogos interiores não sei onde, mas no sudeste asiático, e depois juntava-se tudo e montava-se o livro na Alemanha, por exemplo. Isto, numa primeira etapa", sublinhou.

"Numa segunda etapa, davam-nos quotas também. Diziam: `- você, quanto escreveu ao longo da sua vida? - Tantas páginas. - Pois, você pode escrever três contos por ano`", ilustrou.

Depois, numa terceira etapa, a situação agravar-se-ia mais ainda: "Pagar-nos-iam por desescrever", disse.

"Isso quer dizer que eu chegaria ao ministério da Cultura e diria `Desescrevi um romance meu, chamado `A Desordem do Teu Nome``, por exemplo, e pagar-me-iam por tê-lo desescrito e, além disso, quereria o destino que me pagassem mais por tê-lo desescrito do que por tê-lo escrito", comentou.

"E apareceria uma figura nova, a do desescritor, que seria um tipo logicamente boémio, desastrado... Vê-lo-iamos passar por aí e perguntaríamos: `Quem é este? - Este é um desescritor estupendo, desescreveu `Madame Bovary`!", observou, desencadeando novas gargalhadas.

Juan José Millás considera que isto, "em alguma medida, e de forma subtil, já aconteceu".

"Não de um modo tão descarado como sucedeu na agricultura ou na pecuária, mas de modo subtil e secreto já começámos a desescrever", defendeu.

ANC.

Etiquetas: , , ,

20090211

O grande plano para actual crise económica mundial conforme me foi explicado por Daniel Estulin

A "Focus" publicou na semana passada um artigo, da autoria do meu camarada Carlos Correia, sobre a edição em português do livro "Clube de Bilderberg" de Daniel Estulin...



Aproveitando a oportunidade para divulgar o artigo, perguntei a Daniel o que pensa sobre a actual crise económica mundial. Quis saber se a mesma se deve a um plano maior ou se, desta vez, até mesmo os grande empresários foram apanhados desprevenidos e não conhecem as soluções.
E Daniel mandou este texto como resposta:

"In a Bilderberg report from 1996 I came across a phrase which unfortunately took me too long to understand. The phrase was 'DEMAND DESTRUCTION'.

To be honest with you, I completely forgot about the phrase because amongst other reasons I was still new to Bilderberg and did not understand too many things to concern myself with this one phrase...Untill 2002, when I came across this phrase again, but this in a Club of Rome report and CFR report. By then, I had established a very good professional relationship with a very important member of the World Bank who was very critical of Bilderberg and their plans. I asked this person (won´t tell you if it is a he or a she) what 'demand destruction' meant. This person asked me. 'How do you destroy demand?' I said through Wars, would be one way.

'Yes, may be. But there is a much easier way', this person said to me.

'You destroy demand by destroying world economy ON PURPOSE'.

'Why would the elite want to do that?', I asked.

'To protect the energy reserves of the planet for the wealthy. You see,' this person told me, 'if people are poor, they don’t buy, travel spend... You need energy and natural resources to do all that. By destroying their wealth you can destroy them'.

That´s what Club of Rome and Bilderberg plan of 'Zero Growth' is all about. By the way, the idea of zero growth was presented to the American public by Paul Volcker in the late 1970s, when he was Chairman of Federal Reserve. Who does Volcker work for today? That´s right, Barak Obama!".

Etiquetas: , , , , , ,

Mais do Soares

"Espero que se saiba o que se passou no BPP e no BPN. Tudo tem de ser esclarecido. É preciso transparência no País, senão é impossível haver confiança. Isso gera revolta - e não estamos imunes que isso aconteça em Portugal. Há alguns generais, dois que eu me lembre dois, que já dizeram que é preciso cuidado com as Forças Armadas porque há um certo mal-estar".

Se o socialista ex-primeiro-ministro, ex-Presidente da República, ex-eurodeputado e ex-candidato a Presidente da República Mário Soares quer saber, qual virgem ofendida, o que se passa no BPP e BPN, é porque provavelmente saberá que não se passará nada que possa atingir directamente pessoas da sua "família" política, mas sim os membros de uma outra "família republicana"... Também quando um Republicano fala em mal-estar nas Forças Armadas, apenas lhe indico que só em ditadura é que a Forças Armadas não estão do lado do povo. Ou seja, e usando palavras suas, existe um "défice democrático"... Será que é disso que Mário Soares nos queria avisar?

Etiquetas: , , , , ,

20090210

Maria José Morgado sabe do que fala

'bora lá fazer uma Revolução?

E no "JN" de hoje...

Os contos que citei no texto anterior, "A Homenagem" e "Quarto", de Altino do Tojal, acho que deveriam figurar como leitura obrigatória numa qulquer cadeira de ensino de Jornalismo. Sobre aquilo que é o "JN" de hoje, destaco a entrevista do Adelino Cunha ao ministro Augusto Santos Silva que tem esta frase: "Freeport é 'tentativa de assassinato moral'". Prova de que há jornalismo naquelas paragens.

Etiquetas: , , , ,

20090207

Homenagem a Altino

Chegou-me há dias às mãos, via "Galileu", este formidável livro de contos de Altino do Tojal...



A obra, lançada em Janeiro de 1974 pela "Prelo" - meses antes da pseudo-Revolução que implantou a actual pseudo-Democracia -, é composta por vários contos, entre os quais aquele que dá o nome ao livro.
"A Homenagem" é um retrato dos vários convivas de uma festa de homenagem ao director de um jornal. Está lá o chefe de redacção, "homem baixo, de faces redondas, cabelo penteadinho, lambido de brilhantina", que chora ao bajular o director, provocando o comentário do observador: "Caramba! O chefe de redacção é homem preparado para a vida, sabe chorar quando é preciso!".
Há o fotógrafo sem escrúpulos morais, que se vangloria daquela vez quando, com palavras secas e insensíveis, conseguiu fazer chorar a mãe de uma menor violada e morta às mãos do companheiro de modo a conseguir "o boneco" suficientemente dramático para a primeira página. Há o poeta frustrado que resolveu ser "marxista-leninista", pois, como explica o autor do conto, "não exige talento e sempre dá prestígio". Há ainda o "medíocre", recém-promovido a chefe da Secretaria, um "jornalista que corta muito bem papel e se especializou em provocar o despedimento dos camaradas". Apresenta-se também o velho repórter que, apenas pela idade subiu a redactor - mas que não se importa com a perda das diuturnidades, pois o mais importante é a honra do actual cargo (se bem que o que máximo que vai poder fazer serão artigos sobre coretos e latrinas públicas). O retrato prossegue com a conversa do director sobre as suas aventuras sexuais, havendo ainda o Presidente do Conselho de Administração que se passeia entre os comes e bebes acompanhado por duas gratas meninas, uma de "teta comprida" e outra "de cu amplo". Um autêntico homem do povo que abandona a sala para se retirar para o seu luxuoso gabinete na companhia da moça da "teta comprida". Sem esquecer ainda o jornalista da voz de trovão, que, diz-se, ganhara a promoção levando coristas ao gabinete do director e escandaliza as senhoras presentes ao incentivar um etilizado camarada a contar como escreveu uma comovente reportagem sobre a peregrinação a Fátima a partir de um cabaré.
Todos estas personagens, contudo, são secundárias no conto. O verdadeiro grande personagem é o redactor da secção do Estrangeiro. Esse é que merece grande atenção da parte de Altino do Tojal. É aquele que tem o retrato mais completo, goza de maior atenção nos diálogos. E tem a simpatia do autor: "Educado rudemente pela vida, mas ainda assim puro de franqueza transparente como vidro - ao extremo suicida de não esconder que uma Imprensa castrada é a sua esposa legítima a Literatura é a sua amante". Diz-nos Altino que o redactor da secção do Estrangeiro trabalha "apaixonadamente" numa "divertida sátira de implacável denúncia", mas parece ignorar que quando esse texto for publicado lhe poderá valer "o rancor dos poderosos, do pulguedo mandão, da mediocridade bem instalada - talvez o despedimento, o desemprego, o pão a voar". É da boca deste redactor que saiem as palavras mais poderosas do conto "A Homenagem":

"(...) mas muito menos explicável, quanto a mim, ainda é o motivo por que marcha arrogantemente para a autodestruição um animal cuja caixa craniana aloja um maquinismo de raciocinar...".

"(...) Se torturaste um inocente és um miserável; mas se fui eu a torturá-lo, enfim, essas coisas acontecem, ninguém é perfeito (...)".

"Isto faz lembrar a justificação dada por um pobre diabo arrastado à presença do macedónio [Alexandre, O Grande]: 'Sou pirata porque só tenho um barco; se tivesse uma frota, como tu, seria um conquistador...'".

"Simon Wiesenthal, o "caçador de nazis", acaba de anunciar, todo ufano, que localizou mais caça grossa e que é preciso muito cuidado para não a espantar. Mas o caçador intrépido, o vingador dos oprimidos, o arqueólogo do crime, deve saber que, derramado por judeus ou não-judeus, por gente branca, gente negra ou gente amarela, o sangue é todo vermelho, a lágrima é toda igual. Sendo assim, porque não se põe esse incansável perseguidor de múmias no rasto dos Bormanns de hoje, dos que estão no activo, tão fácil de seguir?".

"(...) Que um desgraçado jornalista nem sequer tem a elementaríssima liberdade de ver sair na íntegra aquilo que escreve e que a sua consciência lhe dita? Que lhe policiam a pena na banca de trabalho e lhe acenam constantemente com a chantagem do pão, forçando-o à exploração sensacionalista do gosto mórbido das massas, mas impedindo-o, por conveniência, de trazer à luz a raiz da miséria que gera o delito e o drama?".

"(...) Como pode o orgulhoso homem sideral, vestido de amianto e manipulando estonteantes tecnologias, pensar no Cosmos em termos de pioneirismo expansionista se não conseguiu ainda ser autêntico senhor do seu próprio planeta em termos de paz e justiça social?".

Quem, no entanto, quem tenta dar conselhos sábios ao redactor da secção do Estrangeiro é o contínuo do jornal: "Vá por mim: chegue-se aos grandes, ria c'o eles. Olhe que eles fodem-no!". O contínuo é assim a pessoa mais avisada e informada sobre a vida dentro e fora do jornal. São dele os melhores conselhos e a mais dura análise da realidade: "Isto num tem salvadoiro. Cada um puxa por si. Veja essas putas e esses paneleiros pra'í a cair de bêbados... Inda diz o nosso jornal que um desgraçado pai de filhos, num sábado à noute, pra esquecer misérias fez desacatos... Mas deixe-me calar, senão ainda me fodo! Hoje, fique você sabendo, ninguém quer saber de ninguém. Cada um mete-se na toca com'ò coelho, e os outros que se fodam. Seja das direitas ou do reviralho, é igal (...)". E termina o contínuo: "Você é poeta, está fodido, só lhe digo isto...".
O conto termina já fora do jornal. À noite, com o autor a contemplar o edifício e a perguntar-se que colossal edifício será aquele. A pergunta terá sido feita em voz alta, a ponto de ter sido escutada por dois operários. E um deles elucida-o:
"É um grande jornal, saiba você! - diz em tom severo. - Nem em Lisboa se encontra um igual!", e acrescenta-se sobre o diário: "Mas aquele ali é um jornal de tomates, lá isso é. Conta as misérias todas dos pobres. Até traz os relatos dos jogos da terceira divisão distrital".
As palavras finais do conto "A Homenagem" descreve-nos brevemente o edifício, mas de forma suficiente para que se possa intuir que jornal poderá ali funcionar:

"E demora um olhar enlevado naquele altíssimo edifício a guindar-se arrogantemente ao negrume quase sem estrelas, com todas as janelas iluminadas, qual poderoso foguetão prestes a disparar para o infinito"


Daqui.

Numa rara entrevista, o autor lembrou a sua passagem pelo "JN":

"Trabalhei sete anos na redacção do Jornal de Notícias e ao fim desse tempo despediram-me.

- Porquê?

- Porque a já extinta editora Prelo acabara de publicar Os Putos, título definitivo do Sardinhas e Lua em edição bastante aumentada. Entre os novos contos havia dois, 'O Campo de Judite' e 'O Gancho', que desagradaram aos omnipotentes senhores do Jornal de Notícias. Despediram-me sem ao menos me ouvirem. Foi em Maio de 1973, estava-se a menos de um ano da Revolução dos Cravos..."
.

Por fim, dedicado a todos os actuais jornalistas que sofrem as agruras da profissão, aqui vos deixo a carta de despedimento que figura no último conto deste livro, intitulado "O Quarto":

"Nos termos do artigo 2º do contrato colectivo do trabalho, comunicamos a V. Ex.ª que os seus serviços deixaram de nos interessar, pelo que solicitamos que passe pela nossa tesouraria para acerto de contas e deixe lá ficar o cartão que o acredita como redactor deste jornal. Redacção alguma o acolherá depois disto - baluartes solidários, força monolítica que somos. Se quiser continuar ligado aos jornais, venda-os pela esquinas - uma profissão tão digna como qualquer outra. No caso de optar pela emigração como via de sobrevivência, desejamos sinceramente que seja mais afortunado (ou mais hábil) do que na primeira tentativa. Com o seu desprezo absoluto pelo espírito de classe e o seu idealismo antiquado tentou V. Ex.ª desviar este prestigioso jornal das prósperas calhas que ele se propôs em boa-hora seguir. Esforço gorado, porque estamos atentos. No livrito que escreveu, V. Ex.ª não nomeou ninguém; mas, desgraçadamente para si, todos nos reconhecemos. Que desastrado V. Ex.ª é! Porque não tomou por modelos os contínuos, ou mesmo, vá lá, os repórteres-estagiários? Soltávamos umas boas gargalhadas cá nas nossas poltronas e a coisa morria aí. Ignora V. Ex.ª que a sátira só é legítima quando fere os outros e que este jornal existe para especular sobre factos inofensivo e não para ser motivo de grave especulação? Ignora que um camarada seu, tenha as limitações que tiver, cometa as infâmias que cometer, é personalidade intocável, em especial se se trata dum superior hierárquico? Por delito menos grave foi o grande Swift amarrado ao pelourinho, mas talvez V. Ex.ª ignore quem foi Swift, já que nem tinha as habilitações indispensáveis para exercer a profissão quando, há sete anos condescendemos em admiti-lo. Pretendendo sabotar os ideais do jornal que lhe dava de comer e beber, e que V. Ex.ª - segundo informações dos nossos serviços de espionagem - considera presunçosamente 'uma estufa de medíocres', não nos ficou outra opção além do despedimento puro e simples, ainda que na modalidade sem justa causa..."

Etiquetas: , , ,

Coincidências

20090205

Saudações Impalianas!

A revista VIP, cá do Grupo Impala, inaugurou hoje o seu endereço electrónico. Faço a devida divulgação e... não precisam agradecer! Eu é que agradeço!

"'O meu dever é falar' - FERNANDA CÂNCIO defende namorado"

Etiquetas: , , ,

20090203

"Offshore", 4 milhões de euros e 15 arguidos...

Pensei que um comunicado da PJ de hoje fechava a investigação do caso Freeport. Há a menção a “offshore”, a 4 milhões de euros e estão lá 15 arguidos!... Mas, diz-se que o caso começou a ser investigado em 2007, enquanto que Freeport começou a ser investigado dois anos antes...

Contas bancárias em “Offshore” – Branqueamento de Capitais – Fuga ao Fisco

A Polícia Judiciária, através da Directoria de Coimbra, concluiu e remeteu ao Ministério Público uma investigação que permitiu a detecção de um “esquema” envolvendo contas bancárias em “offshore” de uma instituição bancária a operar em Portugal e dos seus clientes, os quais, com a sua actuação, praticaram factos susceptíveis de integrarem a prática de crimes de fraude fiscal qualificada (em sede de IRS) e de branqueamento de capitais (pela circulação dos fundos visando conferir uma nova justificação quanto à sua origem). O “modus operandi” consistia no depósito de elevadas quantias monetárias na sucursal que a instituição bancária possui nas Ilhas Caimão e no posterior não cumprimento das respectivas obrigações fiscais inerentes às vantagens assim obtidas, bem como no depósito de elevadas quantias em que o titular da conta não era o legítimo titular da vantagem, lesando, com essa conduta, o Estado português. A investigação apurou que, no período compreendido entre 2000 e 2005, nessas condições, foi depositado um montante global superior a 4 500 000 € (quatro milhões e quinhentos mil euros), tendo sido já repostos, voluntariamente pelos suspeitos, cerca de 132 000 €. A investigação desta actividade ilícita iniciou-se em 2007 e implicou a realização de um elevado número de diligências probatórias, formalizadas em vinte e dois volumes, tendo sido constituídos quinze arguidos.

3 de Fevereiro de 2009

Etiquetas: ,

20090202

Investigação inglesa a Sócrates coincidiu com o auge do caso McCann e negociações do Tratado de Lisboa

Interrogatório a Charles Smith pelos investigadores ingleses ocorreu oito dias após encontro de José Sócrates com Gordon Brown onde se falou do Tratado de Lisboa e do caso McCann

A carta rogatória inglesa do Departamento de Investigação de Fraudes Graves (Serious Fraud Office - SFO), onde são mencionados os alegados encontros entre José Sócrates e os responsáveis do Freeport da Smith&Pedro, revela que o interrogatório à testemunha inglesa Charles Smith, em Inglaterra, a 17 de Julho de 2007, coincidiu com o auge da investigação do caso McCann em Portugal e as negociações do Tratado de Lisboa.
O caso Freeport fora uma questão abordada pela primeira vez na imprensa portuguesa durante a campanha eleitoral para as eleições antecipadas de Fevereiro de 2005. O semanário "Independente" publicou a primeira notícia na edição de 11 de Fevereiro de 2005 com o título "PJ investiga decisão de Sócrates", aludindo ao processo de Março de 2002 do licenciamento do outlet de Alcochete.



O semanário voltaria ao tema na semana seguinte, 18 de Fevereiro, com o título "Indesmentível", mostrando a cópia de um alegado documento interno de suspeitos da PJ onde figurava o nome de José Sócrates.



O caso, contudo, não prejudicou a imagem do então candidato a primeiro-ministro que, dois dias depois, conquistou a primeira maioria absoluta do partido fundado por Mário Soares, em 1973, na Alemanha.
De acordo com a carta inglesa agora tornada pública, ficou-se a saber que um DVD onde o intermediário inglês, Charles Smith, confessava ter dado dinheiro ao ministro do Ambiente de 2002, José Sócrates, e que a procuradora Cândida Almeida confessou em entrevista na RTP que nem sequer queria ouvi-lo - por não o considerar prova legal - foi gravado a 3 de Março de 2006, cerca de um ano depois da história ter sido tornada pública em Portugal. Nessa data, faltavam apenas três dias para a tomada de posse de Cavaco Silva como Presidente da República e o ambiente entre Belém e S. Bento não previa grandes nuvens de discórdia. O DVD foi gravado sem conhecimento de Charles Smith, mas este último, ainda de acordo com as datas apontadas pela carta do SFO, só foi interrogado formalmente em Londres a 17 de Julho de 2007, ou seja, dois anos após a primeira notícia de "O Independente" e um ano após a gravação do DVD.
Apesar das aparentes negações de Charles Smith, é evidente que o gabinete de investigação inglês - que depende directamente do primeiro-ministro britânico - achou que podia concentrar energias numa investigação ao então primeiro-ministro português. E é aqui que as atenções político/jurídicas se complicam.
No dia 17 de Julho de 2007 as relações entre Portugal e Inglaterra eram tudo menos pacíficas. A Imprensa portuguesa e inglesa partilhavam de um interesse comum: o caso do desaparecimento da menina inglesa na Praia da Luz, Madeleine McCann, que se arrastava desde 3 de Maio. Gordon Brown substituíra o primeiro-ministro Tony Blair a 27 de Junho e, oito dias dias antes do interrogatório a Charles Smith nas instalações do SFO, a 9 de Julho, José Sócrates encontrou-se com Gordon Brown em Londres na residência oficial do primeiro-ministro britânico, o número 10 de Downing Street.



A conversa entre ambos abordou a Presidência portuguesa da União Europeia - iniciada a 1 de Julho - e a assinatura do Tratado de Lisboa, o grande objectivo da nossa presidência. Para Sócrates era importante garantir a assinatura de Brown, mas para este último era também importante resolver o caso Madeleine McCann que, recorde-se, contava com o apoio pessoal e institucional do novo primeiro-ministro britânico que até disponibilizara um importante assessor de Imprensa, Clarence Mitchell, para acompanhar o casal McCann no Algarve.
Não se sabe até que ponto Gordon Brown terá sido informado pelo seu SFO - ou até pelos serviços secretos de Sua Majestade -, quanto às suspeitas que pairavam sobre o nosso primeiro-ministro. E apenas se pode especular até que ponto tais informações poderão ou não ter servido de "moeda de troca" nas negociações políticas e judiciais entre Portugal e Inglaterra. O certo é que, duas semanas depois do interrogatório a Charles Smith pelo SFO, a vida dos McCann em Portugal tornava-se mais dífícil: os cães enviados de Inglaterra detectavam vestígios de sangue no apartamento na Praia da Luz de onde desaparecera Madeleine McCann e também odor a cadáver nas roupas da mãe da menina. Os McCann acabariam por ser declarados arguidos no início de Setembro de 2007 e, a 9 de Setembro, abandonavam Portugal.
Quando parecia que a investigação judicial em Portugal contra o casal inglês iria conduzir a uma acusação formal, eis que, a 2 de Outubro de 2007, foi afastado o coordenador do caso, Gonçalo Amaral. O afastamento do homem que sempre desconfiara do envolvimento do casal McCann no desaparecimento da filha, ocorreu no mesmo dia em que Gordon Brown anunciava a Sócrates que aceitaria assinar o Tratado de Lisboa.



Sobre a coincidência da sua demissão e a aceitação de Gordon Brown em assinar o Tratado de Lisboa, escreveu Gonçalo Amaral no seu livro "A Verdade da Mentira": "No fundo, era o desfecho de uma campanha de difamação do caso Madeleine, orquestrada e desenvolvida por meios de comunicação social britânicos, quase a partir do momento em que se iniciaram as investigações. A estratégia era simples, ataca-se a investigação, colocando-se em causa os seus operacionais ao mesmo tempo que se considera Portugal um país do terceiro mundo, com um sistema judicial e policial completamente ultrapassado devido aos seus métodos quase da idade média. Do Reino Unido chegavam outro tipo de notícias. O primeiro-ministro britânico teria telefonado ao Prior Stuart, responsável da polícia de Leicestershire, perguntando-lhe se confirmava a demissão do coordenador operacional da investigação. Desconhecemos a razão de tal interesse em tão humilde funcionário público português, por parte do primeiro-ministro inglês. Nem queremos acreditar no que correu nos bastidores do Tratado de Lisboa sobre a necessidade de confirmação da demissão do coordenador operacional da investigação antes de se dispor a assinar o dito tratado. Boatos, decerto, e nada mais".
A 19 de Outubro, dias depois do afastamento de Gonçalo Amaral - que na prática "matava" a investigação aos McCann - Sócrates festejou com os principais líderes europeus o acordo final para a assinatura do Tratado de Lisboa (que viria a ser formalmente assinado a 13 de Dezembro). Foi notória a celebração com Gordon Brown, enquanto o Ministério Público português se revelara dócil para com cidadãos ingleses e a PJ aceitara cair sobre a espada.



Os outros financiamentos secretos ao PS

Os financiamentos secretos ao PS são já um tema antigo.

A 3 de Março de 1975, nove dias antes do golpe do 11 de Março de 1975 que provocaria as nacionalizações e o Verão Quente - que culminaria com o 25 de Novembro - já o vespertino "A Capital" dava conta "um pesado apoio financeiro" da então República Federal da Alemanha e Estados Unidos destinados "sobretudo à ala de direita do partido de Mário Soares". Ainda de acordo com o artigo de "A Capital", o homem que iria receber o dinheiro vindo do estrangeiro seria o então secretário de Estado das Finanças, Vítor Constâncio, actual governador do Banco de Portugal. O objectivo destes apoios visavam sobretudo impedir que o PS algum dia viesse a coligar-se com o PCP para formar governo em Portugal. Algo que, até hoje nunca aconteceu - e é ainda um dogma da actual democracia, bastando para tal recordar que o ex-secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, quando prestou declarações no DIAP, em 2003, aquando interrogatório no âmbito do processo da Casa Pia, afirmou que se sentia atacado por ter defendido uma aproximação do PS à esquerda.
Uma outra notícia polémica envolvendo dinheiros obscuros para o PS foi divulgada em Maio de 1994, quando se soube que o ex-Presidente da Venezuela, Carlos Andréz Perez, confessou que uma "conta secreta" do governo da Venezuela servira igualmente para ajudar o PS de Mário Soares pouco depois da Revolução dos Cravos.


(Jornal de Notícias, 22 de Maio de 1994)



Outras fontes de rendimento secreto e ilegal para o PS foram ainda referenciadas na antiga colónia chinesa de Macau. O caso nunca foi comprovado jornalisticamente, mas foi abordado num romance de ficção da autoria do jornalista João Paulo Menezes intitulado "A Árvore das Patacas". João Paulo Menezes, em entrevista na altura do lançamento do livro, afirmou: "A partir de uma certa altura (quando percebi que não conseguiria investigar jornalisticamente mais), desisti de saber a verdade. Afinal, estamos a falar de um romance! Se calhar, algumas das coisas que apresento como ficção até aconteceram…". Se calhar, se calhar, um dia ainda haverá um outro romance intitulado: "A Árvore das Patacas Mudou-se para Alcochete".

Etiquetas: , , , , , ,