20060124

"Portugal Livre" - excertos

Durante a minha recente visita ao Porto chamaram-me a atenção para este cartaz que surgiu na rua.



Fui depois à Fnac em Santa Catarina e encontrei o livro...



Lê-se rápido, é um diálogo de 88 páginas entre um "Escritor" e um "Dono de Café"...

E, sem prejuízo para a obra, destaco aqui algumas das palavras do "Escritor":

“Para conseguirem ressuscitar esta país têm, antes de mais, de perceber o que o matou”.

“O verdadeiro problema é a vossa tendência para encontrar bodes expiatórios para os problemas de Portugal”.

“E, tal como uma pessoa, Portugal sofre de uma doença. Na verdade trata-se do pior tipo de doença – uma perturbação do espírito”.

“Vocês foram enganados sobre a transformação de Portugal, da ditadura à democracia. O 25 de Abril foi prejudicial para Portugal porque vos leva a pensar que curou um mal quando não o fez. Deste modo, o problema agravou-se pois julgam que foi solucionado e não lhe dão atenção. O 25 de Abril foi um penso rápido colocado sobre uma ferida profunda”.

“Sim as pessoas evitavam desafiar a ditadura porque tinham medo e era inconveniente. E o medo e a passividade do povo português não foram solucionados no 25 de Abril de 1974, e continuam por resolver até aos nossos dias”.

“Estás convencido de que o governo deste país é legítimo quando não o é. Ocultam-te as verdadeiras origens do teu governo”.

“O Golpe de Beja esteve a um passo de derrubar a ditadura. A razão do seu fracasso tem sido escondida de ti pelos teus líderes”.

“E vocês são demasiado ignorantes para se aperceberem de que alguém tira proveito disso, tudo porque vocês não sabem quem foi o general Delgado”.

“Por vezes, a melhor forma de silenciar alguém é dar o seu nome a uma rua ou a um feriado nacional”.

“Portugal nunca chegará a um destino se não souber de que porto partiu”.

“O teu cérebro foi programado de forma a acreditares que o regime de Salazar durou porque era muito forte. Na verdade podia ter sido facilmente derrubado. Mas, como iremos ver, a oposição estava infectada com a doença que causa os problemas de Portugal.
O Dr. [Mário] Soares e outros recusaram-se a apoiar Delgado porque não queriam desempenhar um papel secundário. Não há nenhuma outra razão para a sua recusa em apoiá-lo. Na altura do Golpe de Beja o regime de Salazar estava susceptível de ser derrubado. O Golpe de Beja fracassou não devido à resistência da ditadura, mas por causa de divergências com Delgado no seio da oposição”.

“Delgado sabia que o comunismo era alheio ao povo português, que é um dos mais conservadores e religiosos da Europa. Mas ele intuiu o apelo crescente do PCP entre as comunidades camponesas. Ele sabia que quanto mais gente vivesse esfomeada sob o regime de Salazar, mais ímpeto ganharia o comunismo. Delgado até se referia ao comunismo português como o ‘fomunismo’”.

“Basicamente, Delgado fez com que as pessoas perdessem o medo de ser intimidadas, presas ou mortas pelo regime. Após a sua morte, aquilo a que os historiadores chamam “o efeito Delgado” acabou por se dissipar e as pessoas tornaram-se novamente dóceis. Daqui se conclui que o espírito revolucionário dos portugueses era mais elevado no final dos anos cinquenta e no princípio dos anos sessenta do que antes do 25 de Abril”.

“Lá porque as pessoas falavam [no pós-25 de Abril] como Fidel Castro, erguiam os punhos e chamavam ‘fascistas imperialistas’ aos seus inimigos, não queria dizer que eles fossem verdadeiros revolucionários. Na verdade, queria dizer, em muitos casos, que eram incapazes de pensar por si mesmos e que apenas queriam fazer parte do grupo. Por outras palavras, quer dizer que as pessoas com visual revolucionário que tu recordas eram, afinal, conformistas. E o conformismo é oposto à revolução. A obsessão com a retórica revolucionária dos meados dos anos setenta é só mais um exemplo da falta de resolução da causa primordial da ditadura”.

“Delgado foi totalmente atraiçoado pela oposição na Argélia”.

“Estranhamente, em 1981, o Dr. [Mário] Soares apresentou na TV ‘O Julgamento de Humberto Delgado”, em que ele, simbolicamente, julgou os agentes da PIDE que assassinaram o general. Será que o Dr. Soares se apercebeu da ironia deste acto? Não era insólito que ele estivesse a julgar os criminosos que assassinaram Delgado enquanto Piteira Santos e Manuel Alegre, dois dos que atraiçoaram Delgado, eram destacados membros do seu próprio partido?”

“O problema é que o espírito de Portugal foi morto através da mentira, portanto a solução é libertá-lo através da verdade. Portugal tem que resolver os problemas com o seu passado se quer entrar plenamente no futuro”

“Os portugueses têm de deixar de procurar bodes expiatórios para os seus próprios problemas e começar a aceitar responsabilidades. A verdadeira revolução deste país será um amadurecimento – o crescimento e a conquista de liberdade das pessoas comuns. Só através deste espírito pode Portugal ser Ressuscitado e tomar o seu lugar, mais uma vez, entre as nações honradas”.

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