20050614

As coisas que o grande arquitecto me faz dizer...

Gostei de ler a entrevista do director do "Expresso" ao mesmo.
Acho que foi uma decisão correcta por parte de quem a tomou, por isso não vou discutir esse assunto.
Lamento apenas não ter ficado muito informado sobre o real valor que tem o tal prémio espanhol de carreira que provocou uma entrevista de 13 páginas. Apenas fiquei a saber que distinção resultou de uma proposta do dono do jornal...
Mais uma vez, tal como no caso de Carrilho, arrisco estar a falar de uma pessoa que, é público, deverá estar um bocadinho chateada comigo uma vez que, em Novembro de 2003, foi vítima de uma queixa da minha autoria na Alta Autoridade para a Comunicação Social. Foi por causa de uma crónica - "Lágrimas de Crocodilo", 30 de Agosto de 2003, logo após a morte de Sérgio Vieira de Mello -, onde o director do "Expresso" defendia a intervenção norte-americana no Iraque com o exemplo de uma família que faz Justiça pelas próprias mãos.
Nunca tive a oportunidade de lhe explicar que, na realidade, telefonara para a AACS apenas para perguntar sobre a hipotética possibilidade daquela comparação poder ser interpretada como "apologia pública de um crime" e "incentivo à desobediência colectiva". No entanto, como a AACS pediu que fizesse a pergunta por e-mail, acabou depois por ser transformada numa queixa sem que eu o tivesse sugerido...
Não há, portanto, qualquer sentimento pessoal.
Apenas profissional.
É na sequência desse respeitinho profissional e graças à liberdade de expressão que dizem existir neste País, que gostaria muito de um dia poder ver uma resposta por parte do director do "Expresso" a algumas dúvidas minhas. São perguntas algo longas, pois precisam de uma certa introdução ao assunto, mas eis o que eu gostaria de saber:

- Há dias, eu disse ao director de um diário que tinha resolvido o caso Camarate. Ele perguntou-me como era isso possível, uma vez que, em 1980, eu só tinha oito anos. Respondi-lhe que, entretanto, estivera a crescer e foi no dia em que me confirmaram que, em 1980, houve um negócio ilegal de tráfico de armas para o Irão por Portugal e que esse negócio poderia ter servido para Ronald Reagan e George Bush - antigo director da CIA e pai do actual presidente dos EUA - impedirem a libertação dos reféns norte-americano em Teerão e assim "roubar" a reeleição de Jimmy Carter, eu percebi que Camarate escondia grandes implicações internacionais e ainda influir gravemente na actualidade política, pelo que seria conveniente manter um silêncio sobre o assunto. Pergunto então ao director do "Expresso" se também já chegou a esta conclusão - baseada nas declarações de Nuno Melo no passado dia 7 de Dezembro de 2004 - e se é conivente com o silêncio por parte do seu jornal ou tem uma opinião diferente?

- Numa análise política por si feita no início de 1987 dizia que Cavaco Silva, caso provocasse a dissolução da Assembleia da República, numa altura em que governava em minoria, arriscava-se a perder as eleições. Contudo, se fosse derrubado sem motivo, ganharia a maioria absoluta. O certo é que, dias depois, a 4 de Abril de 1987, o PRD apresentou uma moção de censura devido a um incidente diplomático num país que até então poucos conheciam e o governo PSD foi mesmo derrubado. O presidente Mário Soares não chamou o PS e PRD a formarem governo e preferiu convocar as célebres eleições antecipadas que, tal como o senhor previa, deram a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva. Pergunto-lhe por que achou então desinteressante noticiar o facto de que, quatro dias antes da moção do PRD, a Assembleia da República tinha aprovado uma comissão de inquérito parlamentar para investigar o negócio de tráfico de armas norte-americanas por Portugal no tempo do Bloco Central (quando Mário Soares era primeiro-ministro e Mota Pinto ministro da Defesa) e, precisamente devido à convocação de eleições por parte de Mário Soares, esse inquérito só poderia funcionar se viesse a ser novamente votado e aprovado na legislatura seguinte? Apesar do "Expresso", entre Janeiro e Abril de 1987, ter feito grandes reportagens - uma delas premiada - sobre esse negócio conhecido internacionalmente como "Irangate" ou "Iran-Contra", o certo é que o assunto foi "esquecido" desde o dia em que foi derrubado o governo minoritário de Cavaco Silva. Acrescento ainda a esta pergunta: teve ao menos conhecimento da constituição dessa comissão de inquérito?

- Também eu já escrevi vários artigos jornalísticos críticos em relação ao Dr. Balsemão - um deles, por exemplo, no "24 Horas", criticava o facto de ele não se lembrar de ter estado com o doutor Henry Kissinger cerca de 15 dias antes da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa. Acha, portanto, que à semelhança do que lhe aconteceu, também eu poderei ambicionar um dia poder vir a trabalhar no "Expresso"? Não digo que venha a ser director, pois isso, para já, não está nos meus planos. Se acha que não é possível, diga-me então uma outra coisa: qual é o segredo do seu sucesso?

-Por que razão o "Expresso" noticia com antecedência a participação de alguns políticos portugueses nos encontros secretos com os empresários do grupo de Bilderberg, e depois não faz uma entrevista ou reportagem com esses mesmos políticos sobre o que ali se combinou? Bem sei que uma das condições da participação nos encontros é o secretismo, mas nesse caso, por que aceitam estas regras políticos que são eleitos pelo povo? Não cabe a um jornal com a expressão do "Expresso" lutar pela transparência da vida política? Sobre o último encontro, depois da notícia do "Expresso", apenas "O Crime" fez jornalismo quando publicou as fotos de António Guterres à porta do hotel em Munique à procura de emprego na ONU... No "Expresso", nem uma única linha sobre o pós-Bilderberg. Até na secção de "Emprego" fui procurar, mas nada...

- Finalmente, e pegando nas suas palavras logo ao início da entrevista (garanto que, sim senhor, lia-a todinha, as 13 páginas! mas esta parte do início é mesmo a que agora mais me interessa), diz que "pelo passado, pode aferir-se da qualidade das análises feitas hoje" e, ainda na mesma resposta, "a história tem-me dado razão". Pergunto-lhe então, olhando para o estado actual da Nação e vendo que nos últimos 20 anos foi o senhor o principal e único responsável pela melhor análise política (a ponto de achar que, sim senhor, se até a Catarina Furtado merece uma medalha no 10 de Junho, porque não o senhor?!), o que se passou foi:

a)Os políticos simplesmente não lhe ligam nenhuma e não tomam em consideração as suas análises?

b)As suas análises são apenas explanações evidentes e repletas de obviedades que até mesmo uma criança de 12 anos (como era o meu caso) pode ler e entender e mais nada?

c)Ainda está para nascer o político que vai mudar isto tudo e, por isso, enquanto esse dia não chegar, o senhor não pensa em demitir-se e vai continuar a escrever, nem que seja por mais 20 anos? (Altura em ganhará o Nobel e se reformará, mas nunca de forma antecipada).

P.S. Gostei imenso da paisagem que se vê desde "a sua nova casa". Para quando uma reportagem na "Caras"?!

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