20040327

Sabia-se...

Sabia-se...

20040325

Causas naturais

Anda por aí toda a gente escandalizada com a decisão de não se levar a julgamento os arguidos do caso da ponte de Entre-os-Rios, apenas porque se resolveu atribuir o sucedido a "causas naturais".
Não entendo a admiração.
Neste país, vendo o estado da maioria das pontes e da qualidade da inspecção às mesmas (lembro-me, por exemplo, aquela passagem de peões que caiu no IC-19 e, só por um feliz acaso, não matou ninguém), toda a queda de pontes em Portugal é, obviamente, devido a "causa naturais".
Naturalmente, ninguém está à espera que uma ponte resista tanto tempo sem os devidos cuidados. E, naturalmente, conhecendo a gestão de 30 anos de saudável democracia, sabemos que ninguém vai assumir responsabilidades, quando, afinal, responsáveis até somos todos nós.
Agora, será preciso levar um País inteiro a tribunal?
Claro que não.
Por isso, meus senhores, por isso não digam que a Justiça não funciona.
Ela funciona.
Por causa disso fomos hoje todos condenados a pena perpétua, a cumprir nesta "prisão" chamada Portugal, da qual só se salvarão os que conseguirem sair daqui.
A salto.
Como há 30 anos.

A verdade histórica

Ainda a propósito da proposta de Mário Soares sobre a possibilidade de negociações com terroristas, lembro aqui mais alguns detalhes sobre a negociação secreta entre Portugal e o PAIGC, pouco antes do 25 de Abril de 1974.
Já aqui contei como o então cônsul português em Milão, José Manuel Villas-Boas, se encontrou com elementos do PAIGC em Londres, em Março de 1974.
Já dei a conhecer a versão saída do livro do diplomata sobre como Mário Soares, quando chegou a ministro dos Negócios Estrangeiros, tratou o assunto.
Agora, o que ainda não contei, é como essa história chegou ao conhecimento público através de uma reportagem do "Expresso", em Março de 1994.
Na pág. 110 do seu livro "Caderno de Memórias", da Temas e Debates, de Abril de 2003, Villas-Boas explica que quando o semanário "Expresso" lhe pediu para participar na reconstituição desse encontro em Londres, este solicitou a devida autorização ao seu ministro.
Embora o embaixador não o diga no seu livro, esse ministro, em 1994, era obviamente o actual primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso.
E conta Villas- Boas (que em 1994 era embaixador português em Moscovo), que o ministro telefonou-lhe a sugerir que esquecesse o pedido do "Expresso", porque "considerava preferível não chamar a atenção para o caso".

Quer isto dizer que, para Durão Barroso, o povo português não tinha direito a conhecer a verdade sobre os acontecimentos históricos que influiram na construção da nossa democracia...

Mas, apesar da recusa de Durão Barroso, o embaixador acabou mesmo por aparecer nas páginas do "Expresso", oficializando assim o episódio.
O que contribuiu para este desfecho?
Quem foi a alma caridosa que acabou por dar autorização para que tal acontecesse?
Villas-Boas explica-nos: "Qual não é a surpresa quando, algum tempo depois, venho a saber que, levado ao conhecimento do primeiro-ministro Cavaco Silva, este dera o seu consentimento ao plano do 'Expresso'. Assim se fez".
Foi, portanto, Cavaco Silva quem deu a autorização final para que este episódio da História de Portugal tivesse a sua confirmação oficial, por parte do diplomata envolvido nas negociações secretas com o PAIGC antes do 25 de Abril.
Porquê?
Seria porque Cavaco tinha o devido sentido da História e compreendia como isso seria importante para o futuro de todos nós?
A última peça do "puzzle" vem no segundo volume da biografia de Cavaco Silva, também na Temas e Debates, onde, na pág. 426, debaixo do título "1994: o auge da tensão" (entre Cavaco e Soares, leia-se), o antigo primeiro-ministro escreveu isto:

"Foi passageira a irritação de Mário Soares com o ministro dos Negócios Estrangeiros pelo facto de ele ter autorizado, com o meu acordo, o embaixador de Portugal em Moscovo, José Manuel Villas-Boas, a deslocar-se a Londres para participar na reconstituição, promovida pelo semanário Expresso, do seu encontro secreto, em Março de 1974, com os representantes do Governo da Guiné-Bissau no exílio. Tinha sido encaregado por Marcello Caetano de negociar a independência da Guiné-Bissau, para pôr fim à guerra que grassava naquela ex-colónia. Mário Soares não terá gostado da reportagem publicada pelo Expresso, nos vinte anos da missão secreta do embaixador, confirmando que, antes da revolução do 25 de Abril, Marcello Caetano tinha tentado negociar com o PAIGC a independência da Guiné."

Conclusão: Durão até tinha dito que não queria, mas Cavaco quis e isso fez com que Soares ficasse irritado.
Resultado: 1-0, a "Força de Bloqueio" perdeu esta partida.
O que nos leva a considerar ainda uma outra situação: o povo português só hoje é que pode saber que o governo de Marcello Caetano tinha tentado uma aproximação aos movimentos nacionalistas, com vista à independência das colónias, pouco antes do golpe militar de 25 de Abril, apenas porque Cavaco Silva e Mário Soares andavam de candeias às avessas.
Quantas outras verdades históricas não se esconderão, e ainda não viram a luz do dia porque, conforme disse há 10 anos Durão Barroso ao seu funcionário diplomático, "é preferível não chamar a atenção para o caso"?

Blair e Kadafi

Não é preciso recuar muito no tempo para lembrarmo-nos disto.
Em 1986, o líder líbio, Kadafi, representava aquilo que Osama bin Laden é hoje.
Lembro-me de uma certa manhã de Abril de 1986, quando Portugal tremia de medo com as prováveis retaliações que poderia vir a sofrer depois de um ataque de caças dos EUA à Líbia que, no caminho entre a base em Inglaterra e a Líbia (onde, entre outras vítimas, mataram uma filha adoptiva de Kadafi), tiveram autorização para sobrevoarem o nosso espaço aéreo.
Em 1988 houve o atentado do avião da Pan Am sobre Lockerbie.
Recentemente, Kadafi pagou às famílias das vítimas e "comprou" assim a saída da lista dos países que apoiam o terrorismo.
Agora, Blair, depois de passar por Portugal, vai visitar Kadafi.
Há uns tempos esteve na Líbia o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz. Foi uma visita que ocorreu pouco depois do regresso de Durão Barroso de Washington.
É um ciclo de diálogo que se fecha.
E depois ainda dizem que a ideia de diálogo com terroristas proposta por Mário Soares é um erro...

P.S. - A propósito de Blair e Kadafi, aconselho ainda a que tomem contacto com a história do espião britânico David Shayler.
Vejam, sobretudo, este artigo do "Observer", que explica como os serviços secretos britânicos, em 1996, pagaram a elementos da al-Qaeda para que matassem Kadafi. Aliás, foi depois Kadafi quem, em 1998 lançou o primeiro mandato de captura a bin Laden.
Confusos?
Ainda bem que estão confusos, pois é assim mesmo que os nossos líderes querem que estejam.
Just take a look:

"British intelligence paid large sums of money to an al-Qaeda cell in Libya in a doomed attempt to assassinate Colonel Gadaffi in 1996 and thwarted early attempts to bring Osama bin Laden to justice."

20040324

E as negociações de Março...

As negociações entre Portugal e os "terroristas", levadas a cabo ainda no tempo do Governo de Marcello Caetano, também cumprem hoje 30 anos.
Foi há 30 anos, no dia 24 de Março, que chegou a Inglaterra, o nosso cônsul de Milão, José Manuel Villas-Boas, para negociar com o PAIGC.
O diplomata, que fora aluno de Marcello Caetano, conta no seu livro "Caderno de Memórias", da Temas e Debates, editado em Abril de 2003 (e não em finais de 2002, como ontem erradamente aqui referi), que tinha sido chamado a Lisboa, em Fevereiro de 1974.
Levado à presença de Marcello Caetano, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, e de João Freitas Cruz, então director-geral dos Negócios Políticos, foi dito a Villas-Boas que ele iria a Londres com uma "oferta de independência à Guiné-Bissau, a troco de um cessar-fogo".
Este diplomata fora assim, na véspera do 25 de Abril, o primeiro representante oficial do governo português a iniciar negociações para a independência de uma colónia africana.
Quando tudo mudou em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros foi Mário Soares.
E, sobre estas negociações de Londres, que seguimento deu Mário Soares?
A resposta vem na página 109 do caderno de memórias de Villas-Boas.
Em Maio de 1974, o diplomata veio a Lisboa relatar a sua reunião aos novos governantes, Costa Gomes e Spínola.
Foi depois relatar a sua história ao novo ministro dos Negócios Estrangeiros:

"Depois de ter esperado quase um dia inteiro na antecâmera do ministro, o chefe de gabinete - então Vítor Cunha Rego - anunciou-me que o Dr. Mário Soares me receberia ao final da tarde. Assim aconteceu. Mas, quando eu me preparava para entrar no gabinete do ministro, o Dr. Mário Soares surgiu à respectiva porta, quase me barrando a entrada. O nosso encontro - embora breve - teve assim lugar numa posição algo ridícula, ambos quase que 'entalados' na espessura da parede, entre as portas duplas que separam o gabinete ministerial da respectiva antecâmera.
O Dr. Mário Soares olhou para mim e perguntou-me: 'O senhor é aquele funcionário que foi a Londres encontrar-se com o PAIGC?', ou palavras semelhantes, ao que eu respondi afirmativamente. 'Oiça-me', continuou Mário Soares, 'quem de ora em diante se ocupa da descolonização sou eu. Esqueça, pois, tudo o que fez e regresse ao seu posto. Boa tarde.'
Assim se concluiu a 'conversa' com o novo ministro dos Negócios Estrangeiros."

A caminho de Abril

Cumprem-se hoje, dia 24 de Março, exactamente 30 anos que ficou decidido, na última reunião da Comissão Coordenadora do "Movimento das Forças Armadas", que Otelo Saraiva de Carvalho iria organizar o golpe militar entre os dias 20 e 27 de Abril.
O golpe teria de ser antes do 1 de Maio, dia do Trabalhador.
Sabia-se ainda, depois do falhanço das Caldas da Rainha a 16 de Março, que um golpe militar, para ter sucesso, só poderia realizar-se à terça, quarta ou quinta-feira (o das Caldas tinha sido de sexta para sábado. Não há tropa ao fim-de-semana e não dá lá muito jeito fazer uma revolução sem homens).
Deste modo, a noite de 24 para o dia 25 de Abril, uma quarta e quinta-feira, era mesmo a última data disponível para fazer um golpe com sucesso.
Sabe-se hoje que o capitão Salgueiro Maia até fez duarnte algum tempo vários exercícios com saídas de viaturas nas noites de quarta-feira, precisamente para não levantar suspeitas quando chegasse o dia de avançar verdadeiramente para Lisboa.
Daí que, quando algum militar daquele tempo vos disser que só soube da data da revolução dois dias antes ou só mesmo na véspera, tenham pena desse homem, porque ele deveria ser o único que não sabia...

20040323

O que o coronel escreve...

O coronel Aventino Teixeira, que foi assessor político do presidente Ramalho Eanes, tem um blog chamado Faz de Conta, onde publicou um interessante texto sobre o 25 de Abril. É um texto originalmente escrito em 1995.
Há nove anos.
E começa assim:

"É o falhanço do golpe de Estado Militar de 25 de Abril de 1974 que está na origem daquilo a que se convencionou chamar de Revolução dos Cravos ou Revolução de ABRIL".

O "falhanço"?
Mas o golpe militar afinal falhou?
Aventino explica mais à frente:

"Para além de condições, também objectivas, na ordem interna - eleições de 1969, incidentes na Capela do Rato e o acento tónico na guerra colonial posto em todas as acções das lutas académicas), para alem disso tudo ou quiçá por isso mesmo, o movimento dos capitães foi-se transformando em enorme 'buzinão' de que muito boa gente quis aproveitar-se para fins políticos muito claros. Uns (onde me incluía - e a Pide/DGS assim o afirmava na ficha respectiva), para derrubar o regime; outros (onde se incluíam quadros superiores da policia política e, necessariamente, Marcelo Caetano), para inflexão do sistema em ordem a uma certa abertura democrática e de descolonização não radical; outros, ainda, para a manutenção teimosa do statu quo, como será (?) o caso da tentativa de Kaulza de Arriaga de também 'buzinar'. Tentativa aliás abortada nos fins de 1973".

E, finalmente, eis a razão que levou ao falhanço do golpe militar:

"Muito simplesmente porque a população, aquilo a que hoje se chama a sociedade civil 'aquilo' a que sempre historicamente se chamou povo, saiu para a rua, desobedecendo aos continuados apelos dos 'revoltosos' sediados no quartel da Pontinha, para que ficasse em casa.
E foi por isso que Marcelo teve de ir para a Madeira e depois para o Brasil. E foi por isso que se fez a Lei 7/74 de 27 de Julho, em que se reconhecia, pela primeira vez, o direito à autodeterminação e independência dos povos das colónias, o que, obviamente, não constava do programa".

Dá que pensar: como seria o Portugal de hoje caso a Revolução de Abril tivesse sido um banho de sangue?
Esta pergunta é o ponto de partido para o meu próximo livro: "Abril Sangrento", a ser lançado durante as comemorações dos 30 anos da nossa revolução.
Em breve falarei mais sobre este meu novo projecto.

O erro de Mário Soares

O antigo Presidente da República, Mário Soares, lembrou-se de dizer que o diálogo com a al-Qaeda poderia colocar um fim ao terrorismo.
Rapidamente foi "trucidado" pelo ministro da Defesa, Paulo Portas.
O comentador político das noites de domingo na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa, disse também a este propósito que Mário Soares errara porque "nunca ninguém negociou com terroristas enquanto tal".
É falso.
O governo de Marcello Caetano procurou negociar a independência da Guiné pouco antes do 25 de Abril. Os "terroristas" - que é apenas um termo inventado pelo Estado de Direito - tiveram um primeiro encontro com José Manuel Villas-Boas, o nosso cônsul em Milão, que foi enviado secretamente para Londres.
Esse é um facto histórico que Marcelo Rebelo de Sousa não pode ignorar (resulta de uma investigação de José Pedro Castanheira para o "Expresso", em Abril de 1994, e está descrito com detalhe no livro de memórias de José Villas-Boas, lançado no fim de 2002).
O que Marcelo e Paulo Portas nunca vão explicar é que estes "terroristas" da al-Qaeda, ao contrário dos movimentos independentistas africanos dos anos 60 e 70, não têm uma sustentatibilidade visível a nível de reivindicações.
Alguém na Oposição ou até no Governo sabe ao certo o que pretende a al-Qaeda?
Querm derrubar o Imperalismo?
Atentar contra o nosso estilo de vida?
Implantar o Estado Islâmico no Médio Oriente?
Liberdade para os Palestinianos?
A luta contra a Globalização?
Certos defensores de bin Laden não professam estas ideias.
Aquele argumento de que os EUA estavam a "pedi-las" quando foi o 11 de Setembro, não colou na maioria do mundo islâmico. Alguns fanáticos podem tê-lo pensado, assim como alguns homens da rua portugueses que, à distância, continuaram a comer a sua "fast-food".
Mas não granjeou qualquer apoio de simpatia para a causa junto daqueles que nunca tinham ouvido falar antes no nome de bin Laden (apesar de já nessa altura ser o inimigo número 1 dos EUA).
Este terrorismno é mais útil a um Estado que quer ser mais repressivo do seu cidadão do que aquele que promove a libertação do indivíduo.
Por isso é que os nossos políticos precisam deste terrorismo.
Foram eles que o "encomendaram". Não o "pediram". "Encomendaram", deram as medidas e tudo. Está nos seus planos de consumo a longo prazo.
E, o mais perverso nisto tudo, é que pessoas como Mário Soares sabem bem disso, até quando procura chamar a atenção à sua figura com essa ideia que sabe ser impossível, mas que faz parte do seu discurso de Oposição na reforma...
Quando diz que devemos negociar com eles, é porque sabe que o diálogo é impossível.
Esse diálogo já foi feito.
Foi um diálogo, secreto, em salões de Paris, pouco depois da invasão soviética de 1979 ao Afeganistão, quando era necessário derrubar o prosidente democrata Jimmy Carter, e colocar na Casa Branca o vice-presidente George Bush (antigo chefe da CIA e pai do actual presidente), onde se negociou com os "terroristas".
Inventou-se então um senhor chamado bin Laden. Para o que desse e viesse...

20040322

"Black Rain"

O texto "A Cabala", na Toupeira tem um final perturbador:

"A propósito do que a AQ referiu no seu comunicado, esta faz referência a um ataque aos EUA cujo nome da operação é curioso: 'Black Rain'.
Se analizarmos o nome dado ao titulo da operação, 'Black Rain', veremos que é uma metáfora a um suposto e possivel ataque nuclear. Pelo que sei, a chuva dita negra acontece após a deflagração de um engenho nuclear. Também sei que analizando os radioisotopos após uma explosão nuclear, é possivel determinar a proveniência deste material. É como uma impressão digital de uma central nuclear.
Por isso vejamos como seria o enredo para um livro de Tom Clancy.

- Os paises aliados sofrem ataques da AQ ao estilo do 11-S.
- Os EUA sofrem um ataque com uma bomba nuclear suja.
- Identifica-se o material como proveniente de um reactor Iraniano.
Et voila.
- Todos os paises europeus, Japão e Austrália irão apoiar os EUA num ataque ao Irão ou aos paises que dão apoio à AQ ( Os EUA já acusaram o Irão de albergar membros da AQ).

Resumindo : O ataque ao Irão começou no dia 11-M".

É um bom enredo, lá isso é. E, desde o 11-S, tudo é possível...

20040321

"Paixão" e teorias da conspiração

Fui ver a "Paixão de Cristo", filme realizado por Mel Gibson.
Há uns anos, dizia-se que, entre os livros mais vendidos no mundo, a "Bíblia" era o primeiro, sendo seguido de perto pelo "Mein Kampf" ("A Minha Luta"), de Adolf Hitler...
As cenas violentas da "Paixão de Cristo" levam-nos a reflectir sobre a violência de todos os dias, onde tantas guerras pelo mundo poderiam ser perfeitamente evitadas, caso os seres humanos seguissem o princípio revolucionário de Jesus Cristo de amar o inimigo. Daí que a proposta de Mário Soares, um republicano laico, em relação à possibilidade de negociações com os terroristas, seja bem mais católica do que a posição do ministro Paulo Portas, um confesso católico, que diz não poder dialogar com inimigos do Estado de Direito... Cristo morre assim todos os dias na cruz.
As ideias de Jesus de Nazaré perduraram até hoje graças ao facto de se ter transformado num mártir, ao dar a sua vida pelos nossos pecados.
O filme, contudo, não nos explica que ele já tinha tudo previsto na sua mente, como numa grande teoria da conspiração - aliás, um outro filme com este título, por coincidência, teve Mel Gibson como principal protagonista.
Leia-se então o Evangelho segundo São Mateus, onde este fala sobre o primeiro anúncio da Paixão de Cristo: "A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e ao terceiro dia, ressuscitar".
Cristo já sabia o que lhe ia acontecer, tinha tudo planeado. Friamente planeado, o que só me faz pensar em muitos planos dos nossos líderes de hoje, que conseguem anticipar acções e reacções populares, manipularem o uso da Imprensa e da Lei.
Veja-se como Pilatos lavou as mãos e transmitiu a responsabilidade para os senhores manipuladores.
Cristo acabou por ser condenado à morte sem que fosse encontrada qualquer culpa.
O seu plano funcionou.
"Quid est veritas?", foi a pergunta de Pilatos a Jesus. Foi a última pergunta do romano, conforme ralata o Evangelho de São João, e não consta que Pilatos tenha obtido uma resposta.
Pelo menos que se saiba.
E com isto Cristo deu seguimento ao seu plano. Ele que até dizia conhecer a verdade toda...
Depois de "Eis o homem", segue-se a via sacra, onde Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz.
E, no Evangelho de São João, já quando Jesus entregara o "espírito", explica-se que "Como era o dia da preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhe quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também".
Temos então aqui o relato (com 2000 anos de distância e a devida compensação na tradução e na simbologia das histórias da Bíblia) que nos indica que, a Cristo não partiram nenhum osso do seu corpo, e que brotou "água" quando um soldado romano (logo um menos interessado naquela morte) traspassou o peito (lá em cima altura) com uma lança. E, em São João, houve a necessidade de enfatizar o facto de que há testemunhas e o "seu testemunho é verdadeiro"...
O que temos aqui? Efeitos especiais, ilusão, conspiração e manipulação? Enfim, estão lá todos os ingredientes da teoria da conspiração que, até hoje, sustenta o Vaticano.
Cristo, afinal, nem sequer morreu, pois não?
Ressucitou em carne, ao fim de três dias de descanso, não foi?
Maria Madalena viu-o e Jesus apareceu a seguir aos apóstolos.
Disse ainda, mais tarde, a Tomé (que não acreditava na ressurreição uma vez que não tinha presenciado a sua aparição): "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!"
Felizes pois esses que acreditam no que lhes dizem, pois deles será o reino dos céus...

20040320

Os documentos espanhóis

O governo espanhol (ainda do PP) resolveu tornar públicos alguns documentos que permitem demonstrar que não mentiram em relação às informações difundidas sobre a autoria da ETA nos atentado de Madrid e que acabram por lhes custar as eleições.
Um desses documentos, o número 3, tem sete linhas riscadas a negro. Em democracia, chama-se a isto "Segredo de Estado", e é tudo em nome da nossa própria segurança.
Este documento termina ainda com a conclusão de que a pista islâmica é fraca visto que falta o factor "suicida", tão característico nos atentados da "Jihad Internacional".
Sendo assim, pelas mesma razões que o atentado não pode ser atribuído cabalmente à ETA, também não poderia ser igualmente atribuído à al-Qaeda.
Só que, agora, também tanto faz estarmos a discutir isto, porque estamos noutro estágio do processo e toda esta questão pertence a um passado já muito longínquo...

20040317

Ficção com imaginação

Imaginemos por um instante que somos Deus e vemos tudo o que se passa no mundo.
Ou, em alternativa, somos um escritor que vai inventar um mundo de ficção.
Ou uma mosquinha que por ali voa e assiste sem ser topada...
Tudo que vou dizer a seguir é parte dessa experiência imaginativa, de ficção, pois em nada podemos dizer que é igual ao mundo que hoje temos. Se, porventura, alguém tiver a tentação de o reconhecer como verdadeiro, que fique desde já a saber que tudo o que aqui descrevo não é mais do que o produto da minha imaginação - delirante, para alguns, perigosa, para outros, ridícula, para mais uns tantos, subversiva, para certos observadores, triste e desiludida, para uns poucos, avisada e reveladora para outros tantos.
Imaginemos, portanto, que existem terroristas que os governos podem controlar.
Imaginemos que há um "exército" escondido, nas sombras, que actua quando é necessário à manutenção da sensação de existência de um Estado de Direito.
Não é difícil se quisermos.
Exemplos não faltam e isso explica-se pelo apoio que os EUA deram a grupos terroristas em São Salvador ou até a Savimbi em Angola... enquanto lhes foi útil. Aliás, bin Laden é um produto dos norte-americanos e foi "inventado" para lutar contra os soviéticos no Afeganistão - cuja invasão ocorreu em plena administração de Jimmy Carter e foi outro dos factores que contribuiu para a sua não reeleição (ver post anterior, "Eleições nos EUA").
Espanha não seria muito diferente... ainda há uns anos havia os GAL, que lutavam secretamente contra a ETA... é um exemplo.
Estes exércitos são controlados por superiores hierárquicos. São figuras que raramente surgem nas páginas dos jornais e, com o derrube das ditadura, aproveitaram bem as vantagens oferecidas pela manipulação da democracia (sempre é melhor ter os jornalistas presos pela carteira, achando que sabem tudo, do que tê-los a queixar-se contra a censura que sentem na carne. A Liberdade não é necessária. O que é preciso é a mera sensação de Liberdade. Isso basta para o animal humano. É isso que se aprende nas escolas das Américas).
A alternância democrática é um jogo, cujas regras têm de ser cumpridas pelos adversários que controlam todo o jogo.
O PSOE tem de respeitar o PP, mas este, para se dar ao respeito, também tem de respeitar o PSOE.
O primeiro passo foi dado com a não recandidatura de Aznar.
As políticas necessárias a todos, PP e PSOE, não foram populares e alguém tinha de as fazer.
Para o PP foi mais fácil, pelo que o PSOE aguentou o jogo democrático e limitou-se a queixar...
Cumpriu calendário - isto para quem gosta de linguagem futebolística.
Há um ano, foi a invasão do Iraque.
Tudo bem. Faz parte do jogo...
É um jogo por ciclos: a Direita gere as crises de segurança, e a esquerda gere as crises de economia.
Em Portugal, o socialista Mário Soares marchou há um ano contra a guerra no Iraque (ele, que, enquanto foi primeiro-ministro ajudou os EUA nos seus negócios secretos de tráfico de armas para o Médio Oriente... O "Irangate" foi naquela altura do governo do "Bloco Central", com Mário Soares e Mota Pinto à frente do destino de todos nós...).
Mas não culpem Mário Soares. Ele fez o seu papel no jogo da democracia, como um jogador que atrasa mal a bola para o seu guarda-redes e permite que o adversário marque um golo decisivo em período de descontos (e que foi de propósito, mas feito tão bem que ninguém o topou, pelo que ficou só a sensação de desconfiança).
O PP e o PSOE analisaram as intenções de voto e viram que o desgaste do governo não era assim tão grande, pelo que o PP até poderia ganhar as eleições.
Mas, mesmo assim, ia perder a maioria absoluta e teria de fazer uma coligação.
Com quem? Com os nacionalistas da catalunha.
Mas toda a esquerda unida poderia ter mais votos... um pesadelo, até para o PSOE (já imaginaram um governo com Ferro Rodrigues como primeiro-ministro, Carlos Carvalhas como ministro do Emprego e Francisco Louçã como ministro da Defesa? Para alguns isso até seria bem visto... Mas acho que não teríamos Paulo Portas ou Durão Barroso na Oposição... Estes estariam na prisão ou emigrados).
Então, entra o Rei em cena, que convoca os dois líderes ao seu palácio e dá-se o seguinte diálogo:
- Como vão resolver este problema? Espanha não pode ficar transformada numa ingovernável manta de retalhos! - observa o soberano.
- Temos uma solução - responde Zapatero, que aponta para Aznar.
- Só uma grave crise poderá mudar o sentido de voto. O PP poderá então obter a maioria absoluta - defende Aznar.
O Rei olha para Zapatero, que sorri, e afirma:
- Mas, Aznar, "hombre", tu estás de saída!... É a vez de Zapatero. Foi isso que se decidiu com Bush...
- Pensei que podíamos continuar por mais dois anos... Um escândalo financeiro daqui a uns tempos...
- Não. Tem de ser agora - afirma o Rei. É a melhor altura, pois existe cada vez mais um sentimento de reacção na rua e não podemos continuar a enganar todos durante mais tempo...
- Temos de "cambiar" de mentira... - interrompe Zapatero.
- "Entonces", tem de ser o plano secreto - diz Aznar.
- Mas gente irá morrer! - exclama o rei
- Para que mais possam sobreviver. Inclusive a Monarquia... - aponta Aznar. Zapatero mantém o silêncio.
- Vou cometer tantos erros nos últimos dias que ninguém vai desconfiar de nada... - diz Aznar.
- E eu irei aproveitar todos esses erros como nunca consegui até hoje. E todos vão pensar que a democracia funciona - acrescenta Zapatero.
- Sim, mas lembra-te: nada de acordos à esquerda. O PP tem de manter-se em condições de ser alternativa no futuro, para que tu possas também vir a ser a outra alternativa! - salienta o Rei.
- Claro! Claro! Isto aqui é como em Portugal. Olha só como o Ferro Rodrigues, apesar do que se passou com a Casa Pia, ainda é visto como um líder da Oposição - sorri o líder do PSOE.
- Não me obriguem a falar de Portugal! Aquilo é muito mais complicado do que parece. Ai se esta boca falasse... Enfim, está tudo acordado? E, já há uma data?
- Amanhã de manhã. É só fazer uma chamada... - ouve-se.

Eleições nos EUA

Acho que Bush não quer vencer as próximas eleições.
É apenas um sentimento, não é uma certeza, mas se Bush não as ganhar, não ficarei surpreendido.
Ficarei muito mais surpreendido se não as perder...
O primeiro presiente dos EUA a não ser reeleito foi o democrata Jimmy Carter. Ele era então considerado um presidente fraco e o facto de não ter conseguido libertar os 52 reféns norte-americanos no Irão, acabou por ser decisivo na altura das eleições de Novembro de 1980.
Há quem defenda que foi por causa de um alegado negócio secreto para a NÃO libertação dos reféns, levado a cabo pela candidatura republicana com iranianos, que Jimmy Carter perdeu as eleições.
Ronald Reagan ganhou, mas ele era apenas a face visível daquela administração. Era um bom actor que executava o papel escrito pelos outros membros.
Entre eles, o vice-presidente: George Bush, pai do actual presidente e antigo chefe da CIA.
Bush conseguiu depois ser o primeiro vice-presidente dos EUA a ser eleito presidente, nas eleições de 1988.
Esteve lá apenas quatro anos, é certo, mas atacou o Iraque por causa daquela estranha invasão iraquiana ao Kuwait, deixou tropas norte-americanas na Arábia Saudita e lançou o embargo ao petróleo iraquiano.
Fez o que tinha a fazer e tornou-se depois no segundo presidente dos EUA a não conseguir ser reeleito, mas também não trouxe muita diferença, pois deixou o moço de recados do Arkansas, Bill Clinton (devidamente "treinado" no seio do grupo de Bilderberg), a gerir a situação.
Depois chegou o filho de Bush, que ganhou (quer dizer... "ganhou") as eleições contra Al Gore, um outro vice-presidente dos EUA que procurava ser eleito presidente dos EUA. Sem sucesso.
Por isso, se George W. Bush, não vier a ser reeleito, será apenas porque seguiu o "bom" exemplo do pai: durante quatro anos já fez o que tinha a fazer e agora poderá sair.
Só falta é saber o que vão inventar naquela altura para Bush sair como um mártir.
É disso que tenho medo.
Tenho medo destes "terroristas" eleitos...
Destes é que eu tenho mesmo medo...
Destes, e de certos jornalistas e "fazedores de opinião".
Medo, mesmo muito medo.

E a República Dominicana?

Portugal tem tropas no Iraque. São cerca de 180 e tal homens da GNR, o que faz do nosso país um potencial alvo para atentados, tanto mais que foi em território nacional, nos Açores, que os líderes da coligação se reuniram antes do ataque ao Iraque.
Mas, alguém se lembra das Honduras, que tem lá 368 soldados?
E São Salvador, com 361?
E, porque não a República Dominicana, um local turístico por excelência, com uma representação de 302 elementos das suas forças armadas?
São bem mais do que nós...

A entrevista foi a "eu"

Isto vinha no "Público" de ontem:

"Público errou
Na edição de ontem, no artigo sobre a entrevista de Cavaco Silva (pág.15), omitiu-se que tal entrevista foi concedida a Maria João Avillez, no âmbito do seu programa Outras Conversas, todos os domingos na SIC-Notícias mas, desta vez, excepcionalmente exibido na SIC. Pela omissão, as nossas desculpas aos leitores e à autora do programa."

Será que alguém telefonou para o jornal a dizer: "A entrevista foi dada a eu!"?
Só reparei neste "engano" do diário hoje, mas constatei que ontem, quando escrevi sobre a dita entrevista, não me esqueci de mencionar o nome da entrevistadora.
Vá lá. O "Para Mim Tanto Faz" não errou...

20040316

Só Aznar é que não sabia...

Antonio Franco, director do jornal espanhol "El Periodico", explica numa crónica como foi o próprio Aznar quem lhe telefonou a garantir que a ETA era responsável pelos atentados de Madrid, poucas horas depois do sucedido, altura em que se começava a suspeitar da pista islâmica.
O director diz que "fue entonces, con la convicción de que el presidente del Gobierno de mi país era incapaz de, en el ejercicio de su cargo, darme seguridades sobre un tema sobre el que no estuviese seguro, cuando decidí el titular: El 11-M de ETA. EL PERIÓDICO cumplió de todos modos con su obligación de publicar todos los datos que tenía a su alcance. En aquella misma edición especial hecha a mediodía, en las páginas interiores tituló de forma más matizada el tema: El Gobierno acusa a ETA y califica de 'miserable' el rumor de que los autores podían ser islamistas."
Aznar poderia estar certo ou apenas mal informado?
Teria Aznar mentido deliberadamente?
Esteve então Aznar disposto a correr o risco de vir a ser desmascarado nessa mentira quando, ainda por cima, as informações que se ia conhecendo sobre os métodos do atentado e as descobertas dos indícios que apontavam para islâmicos estavam a ser cuidadosamente "geridas" pelo seu ministro do Interior?
O que levou Aznar a tomar aquela atitude de "suicídio político"?
Será que, caso Aznar tivesse dito logo que foi a al-Qaeda e a ETA, a trabalharem pela primeira vez abertamente em conjunto, isso não lhe iria garantir mais votos nas eleições?
Mas, será que neste último cenário, o PSOE iria querer manter o "pacto" de regime, correndo o risco de ser o "irresponsável" que iria iniciar a "guerra civil"??
Será que, ao fim de oito anos no poder, Aznar não saberia bem como controlar e manipular os media?
Será que Aznar e Zapatero não discutiram uma solução com o seu Rei?
Não conheço a resposta a estas perguntas, mas sei que, no fundo, depois das eleições não mudou assim tanto em Espanha, como muitos andam por aí, ingénuos, a opinar.

Espanha de A a Z ou "No pasa nada"

Já disse aqui que as eleições espanholas foram ganhas pelo PSOE.
Também já aqui disse que o PP, que reparou antes das eleições que não iria ter a maioria absoluta e assim ficaria à mercê de uma qualquer coligação frágil, quis (repito: QUIS) perder as eleições depois dos atentados de 11 de Março.
Agora, sabe-se que o líder socialista Zapatero não vai formar qualquer governo de coligação.
Deste modo, nem tudo é mau para o PP, que também vai ter a oportunidade de "dialogar" com Zapatero.
Mais uma vez há um partido socialista na Península Ibérica que recusa alianças à esquerda.
Tal como nosso PS...
E ainda há quem veja na votação dos espanhóis no PSOE um sinal da expressão mais pura, legítima e muito democrática vontade popular contra o anterior governo...
Foi só uma mudança dentro da habitual rotatividade democrática.
Foi lá como aqui...
Espanha só mudou de A (Aznar) para Z (Zapatero).
De resto, "no pasa nada"...

Cavaco não é sabão!

Não vi a entrevista de Maria João Avillez a Cavaco Silva na SIC.
Talvez venha a ter oportunidade de a ver uma dia destes no circuito fechado de programas da viagem de comboio entre Porto e Lisboa.
Agora, conforme disse no "post" anterior, estive numa de documentários durante o fim-de-semana e, se calhar, foi por isso que me lembrei de um outro documentário da mesma Mariana Otero da "História de um Segredo", que ela realizou há uns anos sobre a SIC.
Lembrei-me daquele parte da entrevista a Emídeo Rangel onde este dá a entender que o poder da televisão tanto serve para vender sabão como um Presidente da República.
Caramba! Mas Cavaco não é um sabão!...

Documentários

Este fim-de-semana estive numa de documentários e fui ver dois ao cinema.
Recomendo assim "Os Friedmans", que aborda um caso de pedofilia nos EUA e que, às vezes, com as devidas diferenças, faz-nos lembrar do nosso caso da Casa Pia.
Depois, há ainda o documentário de Mariana Otero, "História de um Segredo", que também nos trás uma outra questão "quente" nos dias de hoje que é o aborto.

Hoje

O encontro de Aznar, Barroso, Blair e Bush, nos Açores, cumpre hoje um ano...

20040315

Foi há um ano

O encontro de Aznar, Barroso, Blair e Bush, nos Açores, cumprirá amanhã um ano...

Quem ganhou as eleições em Espanha?

O PSOE ganhou as eleições ou foi o PP que as perdeu devido à maneira como geriu a informação pública sobre os atentados do 11 de Março?
Está à vista que o aumento da participação de votantes foi provocada pelos atentados. Depois, quando a pista da ETA começou a esmorecer e tudo apontava para a al-Qaeda, o PP viria a ser o prejudicado. Por fim, na noite de sábado, uma manifestação ilegal em frente à sede do PP, em Madrid, acabou por levar os votos definitivamente para a a esquerda.
Quer isto dizer que o terrorismo da al-Qaeda conseguiu derrubar um governo que esteve no poder durante oito anos e que, até há uma semana, apesar de não ser certo vir a obter uma maioria absoluta, iria muito provavelmente conseguir ser o vencedor das eleições.
Acontece que o PP, caso não conseguisse obter a maioria absoluta que Aznar pretendia para o seu sucessor, iria ter de negociar uma coligação. Porém, haveria mais partidos à esquerda do que à sua direita. Daí que mais valia perder as eleições do que governar uma coligação frágil. Era a altura de fazer a travessia do deserto, "purificar" o partido e preparar o regresso em força.
Em Portugal (e isto é ainda um reflexo da minha leitura do tal episódio do desmentido de Cavaco Silva a Fernando Nogueira em Setembro de 1995), também houve um governo que, depois de oito anos no poder, ficou sem o seu líder de sempre e perdeu as eleições contra os socialistas... E agora, ei-los de novo, renovados, com um novo líder, que, afinal, até é o mesmo que tinha perdido as eleições internas do partido contra aquele líder que não ganhou as eleições legislativas de 1995...
Quem ganhou estas eleições em Espanha foi o PSOE, é evidente.
Mas o PP perdeu-as porque houve um atentado contra inocentes a quatro dias das mesmas. Perdeu porque quis gerir mal as informações (disseram sempre que fora a ETA apesar de não haver indícios claros nesse sentido) e depois foram vítimas de uma manifestação ilegal de esquerda, que deveria ter sido duramente condenada e daria lugar à suspensão das eleições... mas isso seria o equivalente à guerra civil e, por uma questão de sentido de Estado, o PP aceitou ir assim para eleições.
Espanha está definitivamente dividida e isso agrada à al-Qaeda, a verdadeira vencedora destas eleições.
Em Portugal devemos estar preocupados, pois isto significa que o terrorismo resulta e nós podemos ser o próximo alvo a cair no "dominó" dos países que apoiaram os EUA na Invasão ao Iraque.

Nem mais um soldado para o Iraque

E, de repente, depois dos atentados do 11 de Março em Madrid, tudo mudou:
Zapatero ganhou as eleições e já prometeu retirar as tropas espanholas do Iraque a 30 de Junho.
Depois de oito anos de governo PP, os seus líderes deixam o poder com as "mãos limpas".
Já agora, como vai ser Portugal depois desta derrota do PP?
Alguém já se esqueceu do apoio político dado por Durão Barroso, em Fevereiro passado, num encontro do PP? Foi quando ele falou em espanhol e disse que os portugueses apoiavam o PP...
Que ilação política irá tirar o nosso líder desse seu gesto de empenho num partido que perdeu as eleições daquela maneira. Será que Portugal vai agora mandar mais tropas para o Iraque e assim colmatar a falta de tropa espanhola, ou será que Durão vai mandar retirar os nossos GNR, seguindo o exemplo do vizinho Ibérico e assim tentar evitar que durante as eleições europeias, que se realizam em pleno arranque do nosso Euro2004, venha mesmo a haver um atentado terrorista em solo nacional?
Ou será que a al-Qaeda não ataca a UEFA?

20040314

O que correu mal?

Segundo uma sondagem da TVE, o PSOE ganhará as eleições de hoje onde poderá obter entre 154 a 158 deputados, contra 150-154 do PP. Embora uma outra sondagem da A5 diga que o PP poderá obter 169 lugares... Ainda estamos apenas no início da noite.
Parece-me lógico que, depois das manifestações de ontem à noite contra o PP a exigir a verdade sobre o atentado de quinta-feira, que a intenção de voto (e o aumento de cerca de 10 por cento da afluência às urnas em relação às eleições de 2000, que se cifrou agora em 60 por cento), iria beneficiar a Oposição socialista.
Perguntei aqui: "Quem lucra com os atentados?", e a resposta neste momento parece apontar para o PSOE. Logo, dentro desta lógica e, fazendo fé à "má-fé" dos argumentos que defendem um golpe interno - há aquela hipótese de interferência dos serviços secretos espanhóis na organização dos atentados -, como os socialistas espanhóis sairam beneficiados, deveriam ser eles os culpados...
Será que foram os socialistas que mandaram plantar as bombas nos comboios e depois atiraram as culpas para o PP?
Não nos precipitemos.
Não estou a dizer que o PSOE não vai ganhar as eleições.
Não estou a dizer que os planos saíram furados ao PP.
O que eu quero dizer é, ao sair derrotado nestas eleições, da maneira como saiu, o PP está em melhores condições do que nunca para preparar um regresso em força... Com mais força ainda.
Vejam o que escrevi sexta-feira, ao meio-dia: "O PP espanhol pode ser beneficiado no domingo, depois dos funerais das vítimas. Mas, também pode ser prejudicado - porém, neste caso, sempre justificará um eventual mau resultado precisamente devido aos atentados, podendo augurar um regresso em força ao poder num curto espaço de tempo..."
A "máquina" continua em andamento. Não se esqueçam.
Aquela manifestação contra o PP no sábado à noite, ilegal por ser em pleno dia de reflexão, vai fazer com que o PP seja o grande mártir destes atentados do 11 de Março. Não vão ser as vítimas inocentes da bombas nos comboios... Essas morreram de vez esta noite, 14 de Março...

20040313

Servicios secretos españoles

A todos mis lectores de lengua castellana: él periódico portugués “Semanario”, publica en su portada de ayer, viernes, 12 de Marzo, la siguiente noticia: “Tesis conspiradora: carta de al-Qaeda y pruebas de origen islámico del atentado pueden encubrir acción de los servicios secretos españoles”.
Él objetivo de semejante actuación seria la mayoría absoluta del PP en las elecciones de domingo...
No sé si esto podrá ser verdad, pero ay un periódico que publica una otra versión de algo que se oye mucha gente hablar pero, normalmente, no surge registrado en líneas de la Prensa. Aquí queda, por eso, él registro de esa noticia.
También sugiero a los lectores españoles (y a todos los demás que pueden leer la lengua castellana con facilidad) a buscar en el libro “El Amigo Americano”, del periodista Carlos Elordi, edición de “Temas ‘de Hoy”, la referencia a ese primero atentado de ETA en Madrid, contra Carrero Blanco, en diciembre de 1973, que sucedió pocas horas después de la visita del secretario de Estado norte-americano Henry Kissinger, lo que podrá sugestionar que los servicios secretos norte-americanos sabrían algo de lo que ETA se preparaba a hacer...

ETA + al Qaeda = AZF

Entre as várias mensagens que recebi de leitores, o pedido mais comum era uma reflexão entre os atentados aos comboios em Madrid e as ameaças que se registaram, dias antes, aos comboios em França.
Para responder a isso, deixo aqui uma outra mensagem de uma pessoa que sabe mais do que eu e cuja opinião merece todo o meu respeito:

"Enquanto andam todos a discutir se foi a ETA ou a AL QAEDA, porque, como tu dizes, isso até dá jeito a nível eleitoral, esquecem-se, talvez propositadamente, de nos falarem da terceira hipótese, e que eu considero a mais plausível: AZF.

Repara que eu não digo isto ao calhas como se estivesse a prognosticar um jogo de futebol influenciado pelos meus sentimentos clubísticos, não, estou apenas a referir-me a factos reais e recentes que me levam a pensar que possa ter sido o tal grupo AZF.

1° - O grupo AZF exerceu uma chantagem junto do governo francês, exigindo um resgate senão faziam explodir comboios, e o governo francês, perante o enorme perigo de atentado, e porque consideraram que o assunto era mesmo sério, decidiu pagar!

2° - O governo francês escondeu o caso enquanto pode, o que o governo espanhol também poderia ter feito. Nada nos garante que a Espanha não tenha sido vitima do mesmo tipo de chatagem.

3° - Para provar que não brincavam, o grupo AZF, indicou às autoridades francesas a localização de uma bomba na linha de comboio Paris–Toulouse, ora os espanhóis também dizem ter descoberto, há pouco tempo, uma bomba numa linha de comboio .

4° - Os espanhóis dizem ter capturado, a 29 de Fevereiro, uma camioneta da ETA com 500 kg de explosivos e destinada a cometer atentados em Madrid . Há aqui um detalhe enorme: é que a camioneta, que eles disseram ter sido roubada em França, teria atravessado o País Basco nessa altura?????? IMPOSSÍVEL ……. No País Basco estava eu, estive lá bloqueado pela neve, 18 horas no mesmo sítio, consegui de lá sair com muita dificuldade, a fronteira francesa até fechou, havia polícia por todo o lado para ajudar as pessoas, entrei em França, justamente na manhã de 29 e, pelo que ouvi na rádio, continuava a nevar abundantemente em Espanha, até a fronteira francesa continuava encerrada, portanto custa-me a acreditar que a ETA, cujas bases estão no País Basco, que seja do lado francês ou espanhol, tenha decidido organizar uma viagem para Madrid, de uma carrinha roubada em França, carregada com 500 kg de explosivos, numa altura em que as estradas estavam intransitáveis há mais de 24 horas.

Eu penso que o governo Espanhol foi vítima da mesma chatagem, não pagou e …………………… vemos o resultado!
É a minha opinião , vale o que vale!!!!!!!!!"

E aqui fica registada esta opinião.

20040312

Emoção vai a votos

Há uns anos estive naquela mesma estação de Atocha.
É tudo aqui tão perto de nós e obviamente que, como ser humano, condeno as mortes de inocentes, fico horrorizado com a maneira como foi executado o atentado e choro com os vivos. Mas não me peçam que siga o cherne... Eu não vou por aí...
Pode parecer trágico estar a lembrar neste momento uma anedota. Mas tem de ser contada para criar uma linha de pensamento lógico ao que se está a passar no mundo... É aquela dos dois alentejanos a quem roubaram as suas motas e há um compadre que viu tudo e diz às vítimas que foram os terroristas da ETA: "Como sabe isso?", perguntam os donos das motos roubadas. Responde o outro alentejano: "Atão! Olharam pá's motos e disse um a outro: Eta é pa ti. Eta é pa mi"...
Serve isto para dizer que ontem, de manhã, quando toda a gente dizia que a ETA era a autora dos atentados, não fiquei imediatamente convencido. Não correspondia à maneira de operar, que não costuma atentar contra trabalhadores a caminho do emprego nem ataca de uma forma tão organizada, com este número de explosões simultâneas ...
A pista, para mim, estava no jogo político que se decide em Espanha nas eleições de domingo - não foram adiadas porque os políticos não querem assim mostrar sinais de fraqueza e submissão a terroristas.
É a emoção que vai a votos no domingo.
E todos se lembram como um "bom" massacre e um funeral ajuda a dar votos - faz parte, por exemplo, do guião do filme "Manobras na Casa Branca", baseado num livro sobre a guerra no Iraque. Aliás, em Portugal, já passámos por essa experiência há bem pouco tempo, com os massacres em Timor e o funeral da Amália, fenómenos que caíram no meio da campanha eleitoral de Outubro de 1999 e permitiu a reeleição de António Guterres (que acabou por cumprir apenas dois anos de mandato, pois demitiu-se na noite da emoção do mau resultado eleitoral do PS nas autárquicas de Dezembro de 2001).
O PP espanhol pode ser beneficiado no domingo, depois dos funerais das vítimas. Mas, também pode ser prejudicado - porém, neste caso, sempre justificará um eventual mau resultado precisamente devido aos atentados, podendo augurar um regresso em força ao poder num curto espaço de tempo...
No domingo à noite, quando os resultados das eleições em Espanha ficarem conhecidos, iremos ter a resposta à pergunta mais lógica: "Quem lucrou com isto?"

20040311

Outro 11 de Março

Sem esquecer o nosso 11 de Março que provocou a saída de Spínola para Espanha e deu origem ao Verão Quente, aquele que só terminaria em Novembro, 14 dias após a independência de Angola.
E hoje, dia 11 de Março, dia de greve, digo que ainda me lembro do tempo em que 5 euros valia mil escudos...

Carrero Blanco

Outra coisa: quando começarem a ouvir os jornalista dizerem que a ETA matou Carrero Blanco, em Dezembro de 1973, recordem-se que também há jornalistas espanhóis (cujas ideias não são tão divulgadas) que ainda hoje se interrogam como foi possível a ETA ter feito aquele atentado numa rua onde funcionava a embaixada dos EUA, quando, ainda por cima, o secretário de estado norte-americano, Henry Kissinger, tinha acabado de visitar Madrid...

Antes do 11 de 2001

Alguém se lembra da visita de George W. Bush a Madrid?
Foi a 12 de Junho de 2001, três meses antes do mundo mudar.
Quais eram os temas mais importantes para o mundo?
Recordemos...

A "máquina" a funcionar...

1 - Ainda só se passaram quatro horas desde os atentados em Madrid, alegadamente da responsabilidade da ETA, mas já terminou a campanha eleitoral para as eleições legislativas de domingo:

"La matanza perpetrada hoy en Madrid ha provocado de forma sangrienta el fin de la campaña electoral para las elecciones generales del domingo. Todos los partidos han anunciado la suspensión de los actos electorales y han dado por terminada la campaña."

2 - O governo espanhol também já decretou três dias de luto, ou seja, vai até domingo, que é o dia das eleições e já houve apelos a uma grande afluência de pessoas para irem votar Também já está convocada uma grande manifestação para amanhã. Sem esquecer os funerais das vítimas:

"El Gobierno ha decretado tres días de luto nacional en los que las banderas ondearán a media hasta en señal de duelo, y ha pedido a todas las instituciones del Estado que secunden esta medida. Además, el Ejecutivo ha convocado una gran manifestación para mañana a las 19.00 en todas las localidades de España bajo el lema Con la victimas, con la Constitución, por la derrota del terrorismo."

3 - Segundo parece, até o Parlamento Europeu já terá decretado que o dia 11 de Março seja considerado como o "Dia Europeu das Vítimas do terrorismo". E ainda só se passaram 4 horas desde as explosões

"Los atentados terroristas perpetrados esta mañana en Madrid han causado una gran consternación en el Parlamento Europeo, que ha decidido declarar este sangriento día, el 11 de marzo, como Día Europeo de las Víctimas del Terrorismo. El presidente de la Eurocámara, Pat Cox, ha dicho éstas palabras en español: "No más bombas, no más muertos. Entre todos acabaremos con los terroristas".

Madrid...

Mas terá sido mesmo a ETA ?

Recordações de 1995...

(ESTE VAI SER UM POST LONGO, QUE, AINDA POR CIMA, VAI TER UMA NÃO MENOS LONGA INTRODUÇÃO, PORÉM É ONDE VOU EXPLICAR COMO ME INTERESSEI POR UMA SITUAÇÃO QUE, NA MINHA OPINIÃO, CAVACO SILVA, NO SEGUNDO VOLUME DA SUA AUTOBIOGRAFIA POLÍTICA, NÃO CONTOU COM TODOS OS FACTOS PÚBLICOS, POSSIBILITANDO ASSIM UMA OUTRA INTERPRETAÇÃO DOS ACONTECIMENTOS).

Olho hoje para o meu antigo passaporte apenas para confirmar as datas.
É verdade: entrei em Angola a 2 de Agosto de 1995 e saí a 29 de Setembro.
Foram dois meses de férias em casa do meu tio, no Lubango, onde celebrei os meus 23 anos.
Regressei a tempo de votar nas eleições legislativas de 1 de Outubro, as tais que deram a vitória a Guterres, terminando assim com 10 anos de governo PSD. Não seguira a campanha eleitoral com muito interesse, mas ia vendo algumas notícias, de vez em quando, através RTP Internacional.
Lembro-me que foi o Verão das manifestações no Porto contra a venda do Coliseu à Igreja Universal do Reino de Deus.
Foi ainda Verão da canção "É o Bicho, É o Bicho", do Iran Costa, que animava os comícios do PP de Manuel Monteiro e Paulo Portas.
Foi ainda o Verão do manifesto "anti-Portas", de Carlos Candal.
E foi o Verão da decisão.
Foi quando Fernando Nogueira disse que já conhecia a decisão de Cavaco em relação a uma candidatura a Belém, quando, aparentemente, ainda não haveria qualquer decisão de Cavaco... Contudo, só tive conhecimento deste "desencontro" poucos minutos antes de embarcar no avião para Lisboa.
Os últimos dias em Angola foram passados em Luanda, e não tivera muitas oportunidades de ouvir notícias de Portugal. Estava na sala de espera do aeroporto 4 de Fevereiro quando vi um exemplar do diário "Público", ali abandonado. Lembro-me que era do dia anterior, logo 28 de Setembro, e explicava como esse "desencontro" provocara uma crise de credibilidade entre Nogueira e Cavaco. E como isso poderia ser fatal para o futuro do novo líder do PSD.
Nunca percebi completamente como acontecera aquele "desencontro" entre dois políticos tão experientes...
Nunca mais tive oportunidade de voltar a pensar logicamente nisso visto que, dois dias depois, com a vitória do PS, teve início uma nova era em Portugal.
Ao fim de quase 10 anos, a primeira vez que regressei àquele Verão do ano de 1995, foi na passada sexta-feira, dia 5, quando comprei o livro comemorativo dos 14 anos do "Público", com a reprodução de 300 das suas primeiras páginas.
Ao folhear a história destes anos mais recentes, onde grande parte dos acontecimentos estão gravados no meu imaginário de jornalista, reparei numa edição de Setembro de 1995. Era uma edição que eu falhara, pois não havia grande possibilidades de ter acesso à Internet ou ao "Público" no deserto de Moçâmedes...
Está na página 150 desse livro comemorativo e tem a particularidade de ser a histórica primeira página onde se anunciava em manchete "o bárbaro aglomerado de letras" que compunham o endereço electrónico do "Público": "http://www.publico.pt/publico/hoje".
Nessa mesma edição, em títulos mais pequenos, mas devidamente destacados no espaço reservado à cobertura da campanha das eleições legislativas de 95, está lá a seguinte chamada de primeira página: "Nogueira já conhece mas não revela decisão de Cavaco sobre Belém".
Quando li isto, no passado dia 5, regressei ao aeroporto em Luanda e à minha surpresa em relação ao "desencontro" entre Nogueira e Cavaco Silva.
Três dias depois, nesta segunda-feira, conforme já aqui deixei registado, estive na FNAC a assistir ao lançamento do segundo volume da autobiografia política de Cavaco Silva. E reparei que ele falou sobre o que aconteceu no ano de 1995.
Conforme expliquei nesta longa introdução, os acontecimentos de 1995 e o "desencontro" entre Fernando Nogueira e Cavaco Silva eram um mistério para mim.
Depois de ter lido a versão de Cavaco, fiquei com a sensação de que, afinal, é mesmo um grande mistério que, ainda por cima, Cavaco Silva explica de uma forma, no mínimo, ambígua.
Termina aqui a minha introdução explicativa de como me interessei pelo assunto e como senti necessidade de recordar certos factos.
Segue agora o "post" propriamente dito:

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Cavaco Silva, ao recordar o Verão de 1995, escreveu (página 498 do segundo volume da sua autobiografia política) ter informado Fernando Nogueira que se "inclinava para aceitar a candidatura à Presidência da República, mas disse-lhe que só iria anunciá-la depois das eleições legislativas".
Cavaco relatou depois isto: "No dia 26 de Setembro de 1995, ocorreu um pequeno desencontro entre declarações minhas e de Fernando Nogueira que a comunicação social, cujo comportamento na campanha eleitoral era de óbvio enviesamento a favor do PS, procurou empolar. Nesse dia almocei na residência oficial de São Bento com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Antes, recebi Fernando Nogueira no meu gabinete de trabalho para uma troca de impressões sobre a parte final da sua campanha e para acertar a minha participação no comício de encerramento, em Setúbal. Não falámos sobre as eleições presidenciais.
Depois do almoço, segui para Mangualde, para presidir à inauguração de uma nova linha de produção da fábrica de aglomerados de madeira da SONAE. No final, os jornalistas perguntaram-me pela enésima vez se ia candidatar-me à Presidência da República e eu voltei a repetir, como sempre tinha feito, que estava a reflectir e que ainda não tinha tomado uma decisão. Fernando Nogueira, em conversa informal com jornalistas e que eu desconhecia, terá dado a entender que sabia que eu seria candidato. A imprensa tentou explorar esta aparente contradição para criar dificuldades ao líder do PSD. Sobre a minha declaração em Mangualde, obviamente feita para não dizer nada de especial aos jornalistas, alguns espíritos perturbados ou malévolos chegaram a acusar-me, depois da derrota do PSD nas eleições legislativas, de ter pretendido prejudicar Fernando Nogueira. Era uma insinuação de tal forma absurda que entendi não ser merecedora de qualquer comentário da minha parte."
Quando li isto, e como desconhecia o que se passara em Setembro de 1995, calculei que Fernando Nogueira falara com os jornalistas depois do almoço que Cavaco tivera com José Eduardo dos Santos.
Imaginei que o novo líder do PSD teria dito aos jornalistas que o acompanhavam na campanha a sua opinião sobre a provável candidatura de Cavaco, e que essa notícia teria circulado imediatamente através da rádio.
Pensei que só assim é que se poderia explicar o facto de Cavaco Silva, perfeitamente empenhado na inauguração em Mangualde, desconhecer qualquer comentário de Fernando Nogueira.
Presumi que os jornalistas que estavam em Mangualde, provavelmente alertados pelas suas redacções ou então mais atentos às notícias da rádio, tivessem tido ordens para confrontar Cavaco com as declarações de Nogueira e que o primeiro-ministro, coitado, como ainda não fazia a mínima ideia do teor das palavras que o candidato do seu partido teria dito sobre a sua provável candidatura a Belém, manteve, por isso, a postura que sempre tivera e disse, muito naturalmente, que ainda nada estava decidido.
Os culpados da exploração de uma "aparente contradição" era essa comunicação social "de óbvio enviesamento a favor do PS", via-se mesmo...
Só que a história dos factos é ligeiramente diferente...
Lembram-se da primeira página histórica do "Público" onde está o endereço electrónico do diário em grande destaque? É a mesma edição que tem nessa mesma primeira página a notícia de que Nogueira já conhece mas não revela a decisão de Cavaco.
E sabem de que dia é?
Não?!
É a daquele dia 26 de Setembro de 1995...
Pois é...
Quer isto dizer que a declaração de Nogueira era uma das notícias que faziam a primeira página no dia desse encontro entre Cavaco Silva e Fernando Nogueira, em São Bento, antes do almoço com José Eduardo dos Santos e antes da partida de Cavaco para Mangualde, onde faria o "desmentido" a respeito de uma notícia que "desconhecia".
É histórico o facto de Cavaco Silva não perder muito tempo a ler jornais. Os seus assessores faziam-lhe a selecção das notícias mais importantes.
Então, como foi possível que aquela notícia tivesse escapado à atenção dos assessores na altura em que Cavaco esteve com Nogueira?
Alguém acredita que Cavaco Silva, antes do almoço ou depois do almoço com José Eduardo dos Santos, ou ainda na viagem entre São Bento e Mangualde, nunca soube, nunca foi informado, nunca foi confrontado, nunca lhe foi sequer sussurrado, que aquelas declarações de Fernando Nogueira a seu respeito estavam na primeira página de um diário de grande expansão nacional, que, já agora, até pertencia à mesma empresa responsável pela fábrica que iria inaugurar?
E porque Cavaco não explicou isso na sua autobiografia política?
Que "mistério" ainda residirá aí?

.......
Cavaco Silva, no prefácio do seu livro, diz que achou importante não omitir registos que podiam "ser úteis para aqueles que um dia queiram, com seriedade, fazer a história da política portuguesa das últimas décadas do século XX".
Todos nós lhe agradecemos.

20040308

Livro de Cavaco II

Estive hoje no lançamento do livro de Cavaco Silva, na FNAC, no Chiado. Constatei que o ex-primeiro-ministro está em forma e prepara-se para voltar...
Quanto à obra em si, há lá umas revelações interessantes, pelo que, mais no fim da semana, voltarei ao assunto.
Para já, ainda vou ler mais um bocadinho...

20040307

Livro de Cavaco: modo de utilização

O segundo volume da autobiografia política do antigo primeiro-ministro Cavaco Silva, que amanhã será colocado à venda, e caso siga a mesma linha do primeiro volume, precisará então de um "guia para modo de utilização", o que passarei a explicar - os leitores do meu livro "Eu Sei Que Você Sabe - Manual de Instruções para Teorias da Conspiração" já conhecem o caso.
Depois de ler o primeiro volume cheguei à conclusão de que, ao contrário de muitos outros políticos, Cavaco Silva não mente, não esconde nada, mas confia na inteligência das pessoas para descobrirem certos factos...
Assim, a título de exemplo, no primeiro volume da autobiografia política, quando li as informações que o nosso antigo primeiro-ministro escreveu sobre o caso de tráfico de armas por Portugal no âmbito do escândalo "Irangate", descrevendo factos ocorridos em Lisboa entre os dias 20 e 23 de Novembro de 1985 (cerca de 15 dias depois dele ter chegado a S. Bento), descobri que Cavaco não contou que, a 21 de Novembro desse mesmo ano, no intervalo de certas trocas de telefonemas entre o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Pires de Miranda, e responsáveis da administração norte-americana, o primeiro-ministro português tivera um encontro com o presidente Ronald Reagan, no âmbito de uma reunião de líderes da NATO, em Bruxelas, para ouvirem as conclusões da cimeira de Reagan com o então líder soviético Gorbatchev.
Achava eu que Cavaco Silva andava-nos a ocultar informações, quando porém, acontece que, afinal, estava equivocado, pois ao ler com atenção a obra, reparei que o primeiro-ministro escrevera realmente na sua autobiografia política que tivera aquele encontro com Reagan naquela mesma data...
O "problema" é que Cavaco descreveu esse encontro e registou a data na página 172, onde contou como fora essa sua primeira reunião de líderes da NATO, enquanto que o relato do que acontecera em Lisboa, no dia anterior e nos dois dias seguintes a esta reunião de Bruxelas, só veio escrito (e sem nunca mencionar este "detalhe" do encontro com Reagan) ao fim de 77 páginas mais à frente, na página 249, precisamente quando abordou o negócio de armas com os norte-americanos.
Concluí que Cavaco não nos mentiu, não escondeu nada aos seus leitores, e que apenas confia na inteligência de cada um para descobrir a verdade nos detalhes. Este é o conselho que deixo a todos os jornalistas e leitores que a partir de amanhã irão tomar contacto com o segundo volume desta autobiografia política.

Fontes seguras e bem informadas, que sabem bem o que dizem e nunca nos enganariam ou sequer pensariam em manipular-nos para proveito próprio...

Li isto no "Público" de hoje:

"O diário 'The New York Times' tem em vigor desde dia 1 novas regras sobre o uso de fontes de informação anónimas, onde se destaca a obrigatoriedade de os jornalistas comunicarem a pelo menos um responsável editorial a identidade de qualquer fonte que utilizem. É a resposta a 'pedidos de garantias adicionais' da 'parte de leitores e de colegas de profissão' feitos nos últimos meses, o que não pode ser desligado de vários escândalos ocorridos no ano passado.
Quando é concedido anonimato, o 'repórter e fonte têm de compreender que o compromisso é assumido pelo jornal, não apenas por um jornalista individual', lê-se num memorando intitulado 'Confidential News Sources' ( http://www.nytco.com/sources ), onde é explicada a política e as novidades neste domínio. É por isso, acrescenta o documento, que nas histórias de rotina o nome ou papel explícito da fonte deve ser comunicado confidencialmente ao chefe do departamento do repórter [o editor]'."

Serve isto para dizer que, certa vez, em 2000, quando tive de utilizar uma fonte anónima para escrever uma notícia que foi manchete do "Tal&Qual", achei que deveria informar o meu director e chefe de redacção da identidade da mesma. Só hoje soube que, afinal, isso ainda não era uma regra do jornalismo. Quer isto dizer que andei enganado estes anos todos... Aliás, ainda hoje andarei enganado, pois não me parece que em Portugal seja esta a regra em muitas publicações.

20040303

Já reparou no seu bolso?...

Tem telefone em casa, ou no trabalho, e recebe factura detalhada da PT com o preço de cada chamada? Ou, em alternativa, é cliente da TMN e também recebe factura com detalhes dos custos das chamadas?
Já reparou então se, porventura, não lhe andam a ir ao bolso?
Explico: se olhar para as facturas detalhadas da PT ou da TMN vai reparar que, nas chamadas, os valores estão registados com três (3) casas decimais nos cêntimos de euro.
Tal como a gasolina.
Ora, esses valores poderiam muito bem ser arredondados. É assim que acontece, por exemplo, com uma outra empresa de telecomunicações concorrente, a Vodafone...
Qual é a vantagem, ou desvantagem, deste sistema de apresentação de valores?
Por que é a Vodafone diferente da TMN ou da PT?
Faça as contas em casa e poderá ser que encontre uma diferença entre o que pagou e o que teria pago, caso os valores de cada chamada tivessem sido arredondados para duas casas decimais em vez de só ter sido arredondada, no final, a soma total das três casas decimais.
Veja-se este caso meramente exemplificativo do tipo de soma que se fala: caso os valores tenham três (3) casas decimais, então some-se, por exemplo, 1,205 + 0,904 + 1,203 +1,209 + 0,804 = 5,325, o que depois dá 5,33 euros no arredondamento final. Ora, caso os valores tivessem sido arredondados para duas casas decimais antes da soma final, isso daria o seguinte: 1,21 + 0.90 + 1,20 + 1,21 + 0,80 = 5,32 euros.
Sugiro que faça experiência com os valores da sua factura detalhada: arredonde cada chamada da PT e (ou) da TMN (lembre-se que tudo abaixo de 4 na terceira casa decimal mantém o valor da segunda casa decimal e tudo acima de 5 na terceira casa decimal, aumenta a segunda casa decimal para o valor imediatamente superior) e no fim veja o resultado...
Vai dar trabalho, eu sei, mas digo que conheço um caso onde a soma revelou 3 euros a "desfavor" do cliente... embora também existam casos onde a diferença até pode ser a "favor" do cliente. Embora neste último caso, nos exemplos que analisei, a diferença é mínima, em nada comparada aos valores de quando é a "desfavor" do cliente...
Veja então qual foi a sua "sorte" e se não lhe terão andado a mexer no bolso, pois nesta era da economia de mercado, capitalismo, monopólios e poder das grandes empresas, cada cêntimo que é nosso é um cêntimo que deveria ser mesmo nosso... Desde que também saibamos lutar por ele.

Tráfico de órgãos em Moçambique

A propósito do tráfico de órgãos em Moçambique, há duas coisas que posso dizer. A primeira é que, numa antiga colónia portuguesa, onde ainda vivem muitos cidadãos lusos e outros chegaram a estas paragens em tempos mais recentes, é sempre positivo constatar que, no meio das denúncias até agora feitas pelas missionárias brasileiras, não há qualquer referência ao directo envolvimento de cidadãos portugueses em alegados casos de tráficos de órgãos de crianças moçambicanas.
Ainda bem, pois Portugal não iria aguentar mais notícias de portugueses (ilustres ou menos ilustres) envolvidos em mais casos de exploração do corpo de crianças.
A segunda coisa que posso dizer, é que há dias vi um jornalista da RTP dizer que tinha feito uma "investigação", onde chegou à conclusão de que muitos dos casos denunciados envolvendo corpos mutilados não poderiam ser enquadrados no tráfico de órgãos, uma vez que isso requer especiais cuidados médicos para a proveitosa recolha dos órgãos humanos.
A justificação mais simples e lógica para o sucedido é a de que existem rituais ancestrais naquelas paragens de África que acabam por provocar este tipo de mortes em crianças inocentes. Por isso, pensei, Moçambique acaba mesmo por ser o terreno ideal para este género de tráfico, visto que existe na sociedade uma explicação suficientemente enraízada no sentido de minimizar o impacto das denúncias.
É o crime perfeito.

20040302

Conspirações suecas (ou quem matou Olof Palme e Anna Lindh)

O que ouvi agora...

"Se não podes vencê-los, extermina-os!"